Gravadoras fazem investimento estratégico em parcerias entre nomes de destaque (e de estilos às vezes bem diferentes) a fim de ampliar os públicos dos seus principais artistas
Por Ricardo Silva, de São Paulo
Anitta com J Balvin (foto); Luan Santana com Pabllo Vittar; NX Zero com Tropkillaz; Nego do Borel com Maluma. Não, não é um jogo de cartas de combinações aleatórias. É estratégia de mercado, e de alto perfil, determinada pelos presidentes das principais gravadoras. Juntar grandes nomes pop de estilos muito variados é tendência antiga da música dos Estados Unidos que parece ter chegado para ficar entre nós. Numa onda meio “Godzilla vs King Kong”, ao colocar pesos-pesados para “lutar” — neste caso, somando, é claro, pelo bem de um determinado single —, atrai-se a atenção dos públicos de cada um deles, além de instigar a imaginação das pessoas sobre o resultado que pode sair de uma parceria de alta voltagem.
Um dos principais nomes do pop nacional, o sertanejo Luan Santana (que comenta sobre suas variadíssimas parcerias, com gente do rock, do pop, do funk, do axé e de outros estilos na última edição da Revista UBC) se prepara para mais uma, com outro blockbuster que vem eletrizando a cena musical nacional: Pabllo Vittar. “Tudo indica que vai sair. Estamos falando sobre isso. Acho incrível o trabalho da Pabllo. Sem dúvidas é a ascensão mais rápida que a gente viu nos últimos tempos. Está todo mundo babando por ela”, afirma Luan. “O gênero de cuja fonte bebi, que é o sertanejo, tem o dom de se unir, em perfeita harmonia, com estilos como o axé, o funk e tantos outros”, ele justifica, exaltando alguns dos seus maiores sucessos recentes, lançados em conjunto ou contando com participações de Sandy, Tiê, Anitta, Nego do Borel, Steve Aoki, Ana Vilela... Sem falar naquelas em que ele é o convidado, como “Bailando”, sucesso do espanhol Enrique Iglesias.
"Os duetos fazem parte da estratégia de quase todas as companhias e em todo o mundo, resultado da distribuição digital que criou uma comunicação quase imediata entre artistas de gêneros musicais e países diferentes."
Sergio Affonso, presidente da Warner Music do Brasil
Marcelo Soares, presidente da Som Livre, gravadora de Luan há dez anos, desde que ele se lançou profissionalmente, aposta nessa tendência irreversível. “Veio para ficar”, crava, destacando o investimento da gravadora na expansão das parcerias, que, afinal, refletem a era multiestética, pluralíssima, multiconectada que vivemos.
Na Warner Music do Brasil, o presidente Sergio Affonso aposta na volta de grandes nomes do sertanejo ao catálogo da casa, depois de anos afastada do gênero. E o sertanejo é, talvez, o estilo que mais vem apostando nas misturas musicais. “Retornamos ao gênero a partir da contratação da incrível Paula Mattos e, posteriormente, de Higor Rocha, e nossa meta é ambiciosa para este ano”, ele diz. “Os duetos, hoje em dia, fazem parte da estratégia de quase todas as companhias e em todo o mundo, resultado da distribuição digital que criou uma comunicação quase imediata entre artistas de gêneros musicais e países diferentes. Essas parcerias abrem todo o mercado para todos os envolvidos. Um artista sertanejo cantando funk é bom para os dois lados”, continua Sergio Affonso.
Ele admite, no entanto, que pode haver ruídos, se as parcerias não forem muito bem pensadas: “Forçar a barra em juntar artistas com zero afinidade pode ser mortal para todos.”
"Acredito que na música não exista tanta polarização quanto vemos na sociedade. Nós, que somos da música, somos mais parecidos. E estamos do mesmo lado."
Rick Bonadio, produtor
Grandes produtores brasileiros peritos em promover parcerias de pesos-pesados do nosso pop sabem disso perfeitamente. Para Rick Bonadio, que produziu Mamonas Assassinas, Rouge, Ira!, Charlie Brown Jr., CPM22, Titãs, NX Zero, Negra Li, Kell Smith, e põe nomes mais nesta lista, as participações de nomes consagrados numa faixa (ou feats, como se usa em inglês) têm função até apaziguadora na sociedade. “Acredito que na música não exista tanta polarização quanto vemos na sociedade. Nós, que somos da música, somos mais parecidos. Estamos do mesmo lado, e isso é muito bom. Os movimentos que tenho sentido e incentivado nas minhas produções são os de letras fortes, que falem sobre questões sociais e que resgatem o orgulho das pessoas. O amor próprio anda abalado no Brasil. Espero que a música faça seu papel de levantar a nossa moral e não só o nosso mercado”, prega.
Outro que frequentemente junta “lé com cré” e consegue sucessos retumbantes de Anitta, Latino, Nego do Borel, Fiuk, Buchecha, Belo e Kelly Key, só para ficar em alguns nomes, é Umberto Tavares. Ele prega a simplicidade e o “feeling” na hora de promover as parcerias. “Sempre procuro misturar o ponto forte de um com o ponto forte de outro. E, claro, a ideia é poder trazer os públicos de um e outro e produzir um grande sucesso”, resume.