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Spotify e o difícil equilíbrio entre a remuneração justa e o lucro
Publicado em 07/06/2017

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Gigante sueco vem tomando medidas a conta-gotas para contentar os titulares, mas analistas apostam que apenas a saída ao mercado de ações poderá reverter seus prejuízos multimilionários e contribuir para melhorar os pagamentos aos artistas

Por Alessandro Soler, de Madri

O Spotify, maior serviço de streaming do planeta, se equilibra sobre a corda bamba — ou, para ficar numa metáfora mais condizente com a era de consumo musical digital, sobre um fino feixe de fibra ótica. É que, apesar do seu valor de mercado de espantosos US$ 13 bilhões — o que o torna a maior empresa de tecnologia da Europa —, e do faturamento de US$ 3,1 bilhões no passado, salto de 50% em relação a 2015, o prejuízo líquido também disparou. Pode ter mais do que dobrado, para US$ 445 milhões, segundo fontes internas anteciparam ao site especializado em tecnologia The Information (os dados oficiais ainda não foram divulgados). O gigante sueco tenta se equilibrar entre sua expansão acelerada (com mais de cem milhões de usuários, conta com “apenas” 50 milhões de assinantes em seu serviço pago), as pressões de titulares das obras por melhores remunerações e, claro, a necessidade de finalmente ter lucro.

A pecha de ícone máximo da “era dos centavos” pegou. Naturalmente o Spotify não está sozinho nessa, e serviços como Pandora, Deezer e Apple Music têm políticas similares de pagamento. Mas é amplamente sabido que a empresa sediada em Estocolmo é a ponta de lança neste mercado e, em última análise, determina os preços gerais. Ali, cada stream tem, em média, uma remuneração de US$ 0,0045. Por que em média? É que a fórmula de cálculo é complexa e não diz respeito às reproduções de cada canção especificamente; responde, antes, a uma média ponderada de todo o pacote de execuções da base de dados da plataforma, ou coisa de 30 milhões de faixas, segundo dados oficiais de março passado.

Você tem um megahit? Talvez ganhe algumas centenas de dólares
Em outras palavras, o pagamento é flutuante. Mas, num bom mês, digamos assim, uma música precisaria ter coisa de um milhão de streams para que todos os titulares (compositor, cantor, editora, agregador digital e, eventualmente, outros) pudessem dividir algo como US$ 4,5 mil. Não é preciso ser um grande experto em mercado musical para saber que um milhão de execuções é coisa à beça — e nem que US$ 4,5 mil divididos entre muitas pessoas são quase nada.

No final de maio passado, a plataforma topou acordo de US$ 43,45 milhões para encerrar na Justiça de Nova York uma ação coletiva de editoras e titulares de direitos de reprodução.

Sem propor ainda grandes revoluções no método de retribuição aos titulares, o Spotify vem dando, nos últimos tempos, provas de que quer sair um pouco melhor na fita. Em março de 2016, aceitou pagar US$ 21 milhões à Associação Nacional de Editoras Musicais dos Estados Unidos (NMPA, na sigla em inglês), num acordo extrajudicial, depois que uma chuva de críticas de estrelas de primeira grandeza da música estadunidense denunciou a política dos centavos e ameaçou tirar suas canções da plataforma. No final de maio passado, topou outro acordo de US$ 43,45 milhões para encerrar na Justiça de Nova York uma ação coletiva de editoras e titulares de direitos de reprodução. São medidas em conta-gotas, mas uma mudança de paradigma no serviço sueco, que, num primeiro momento, negava remunerar mal.

A outra frente de batalha é junto às gravadoras. Apesar de 70% de seu faturamento irem para as discográficas (Sony, Universal e Warner principalmente), o Spotify aporta somente 10% do faturamento médio desse setor. O gigante quer aumentar seu percentual e, consequentemente, seu poder. Gravadoras e agregadores digitais têm conseguido pequenas vitórias nos últimos tempos, como adiar a disponibilização de determinadas obras aos usuários gratuitos do serviço de streaming, garantindo algumas semanas de maior remuneração.

Capitalização de US$ 10 bilhões é esperada
A salvação da plataforma, pelo menos a curto prazo, seria a iminente saída ao mercado. Esperada desde o ano passado, a OPA (oferta pública de ações) na Bolsa de Nova York ainda levará “um tempo”, afirmou Martin Lorentzon, cofundador do Spotify e membro do seu conselho, a uma rádio sueca no último dia 2. Quando ocorrer, tal capitalização poderia aportar coisa de US$ 10 bilhões à empresa, afirmam analistas como o espanhol Hernán Sánchez, de Madri. “Com esse respiro, e se puder convencer mais gente a pagar pelo serviço premium e transferir mais dinheiro aos titulares, pode dar início a um ciclo virtuoso e mais sustentável”, ele pondera.

"Há muita competição e muitas formas de obter música gratuita. O Spotify precisa reinventar seu modelo de negócio se quiser continuar hegemônico"

Javier Flores, da consultoria Asinver

Mas há quem veja um panorama sombrio no horizonte do Spotify. Inteiramente dedicada ao serviço de streaming, a companhia não é amparada por uma “empresa-mãe” eclética, por assim dizer, uma holding dedicada a outros negócios, diferentemente do que acontece com alguns de seus competidores, como Apple ou Amazon. “O negócio central do Spotify compromete sua rentabilidade. Há um teto, pelo menos neste momento, à expansão do serviço de streaming pago. Outras plataformas de streaming usam seus serviços para atrair usuários a outros negócios da companhia, o que não ocorre ali. Há muita competição e muitas formas de obter música gratuita. O Spotify precisa reinventar seu modelo de negócio se quiser continuar hegemônico”, afirma outro analista espanhol, Javier Flores, da consultoria Asinver.

Neste momento, o foco do gigante sueco é estancar a sangria dos prejuízos de centenas de milhões de dólares que se repetem ano a ano e convencer mais gente a pagar. Como a migração do mercado musical para o streaming parece ser, por ora, um movimento irreversível, cabe aos titulares torcer para que ele consiga.


 

 



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