Produtores e artistas que colecionam visualizações na internet dão dicas simples de como realizar um trabalho chamativo
Por Kamille Viola, do Rio
Um videoclipe hoje é praticamente essencial na divulgação de um trabalho musical. Afinal, o YouTube é o maior site de streaming do mundo: a plataforma tem mais de um bilhão de usuários, quase um terço dos usuários da internet. Diariamente, essas pessoas assistem a milhões de horas de vídeos no site e geram bilhões de visualizações.
A boa notícia é que, com um crescente número de recursos tecnológicos à disposição, realizar seu próprio clipe é algo bem mais acessível do que há alguns anos. É possível fazer um trabalho de qualidade mesmo com orçamento limitado. “Hoje em dia, um iPhone 7 grava em resolução 4k (ou Ultra HD), então, a forma de gravar hoje está mais fácil”, exemplifica Rabu Gonzales, diretor de clipes como “Te ensinei certin”, de Ludmilla, com 51 milhões de views, e “Retrô”, do Imaginasamba, com 22 milhões, entre outros. “Portanto, quanto melhor for o clipe, mais as pessoas vão querer ver de novo e fazer boca a boca”, diz.
1. Buscar referências
Conseguir se comunicar com o diretor e explicar o que deseja é importante para fazer um clipe que tenha a sua cara. “Referência visual é tudo nessa vida do clipe independente (risos). Do que a tua música fala? Com o que ela dialoga? Com o que o artista dialoga? Que imagem quer passar enquanto artista?”, comenta Carol Matos, diretora de clipes independentes como “Legal e ilegal”, de Felipe Cordeiro, e “Proposta indecente”, de Aila. “É importante construir em conjunto, artista e diretor, e o vídeo tem que estar a favor da música, do que ela está dizendo, é uma obra realmente audiovisual, no sentido mais puro da palavra”, acredita.
2. Não tentar imitar clipes de famosos
Se você é um artista independente, provavelmente trabalha com cifras muito menores do que os superstars. Portanto, tentar imitar o trabalho de algum famoso pode ser um tiro pela culatra. “Muitos não só trazem a referência: eles querem que o clipe deles se pareça com um do qual gostam muito. Só que geralmente existe uma diferença muito grande entre o que o artista leva de referência e o que pode ser executado com a verba que ele tem”, diz Rabu Gonzales. “Quando ele vê um plano de um clipe — algo simples, tipo o 50 Cent entrando num carro e saindo pela orla —, ele não entende que, por trás daquela imagem, existe uma superluz de trocentos mil watts, um rebatedor, uma câmera de cinema... Ele só enxerga os movimentos e quer semelhante. Mas não fica parecido, fica mambembe. Então, eu sempre falo: é importante ter referência, mas trazer para a realidade financeira dele, para realidade do lugar onde ele vive. E, quanto mais vivo e natural ele fizer isso soar, mais legal vai ficar.”
3. Uma paródia, no entanto, pode ser uma boa saída
Artistas diversos, como Foo Fighters, Beastie Boys e Blink-182, já usaram as paródias em seus vídeos. Se a sua pegada é o humor, essa pode ser uma ideia interessante. “Acho maravilhoso, sempre vi o [músico e humorista] 'Weird Al' Yankovic fazendo e ficava fascinado. É um recurso bom, tem uma galera fazendo e está dando bastante ibope”, diz Gonzales. (Atenção: no Brasil, a paródia pode ser notificada, caso o detentor dos direitos da obra parodiada sinta-se descredibilizado).
4. Planejar bem
Se você tem pouca verba, um bom planejamento é fundamental para que tudo dê certo com o seu vídeo. “Gente, organizar economiza muito dinheiro! Organizem, planejem, não gastem à toa, pesquisem onde pode ter um almoço mais barato para a galera, negociem”, ensina Carolina Matos. “Quanto menos dinheiro, mais tempo precisa para organizar, porque tem que fazer na manha. A tríade 'bom, rápido e barato' não existe”, alerta.
5. Contar com sua rede
Com o dinheiro curto, acionar os contatos é essencial. Amigos ou fãs podem ajudar emprestando elementos para o clipe — como locação, figurino, objetos —, atuando nele, participando da gravação ou até com verba, por meio de financiamento coletivo. “Às vezes tem pouca grana, e, de acordo com o roteiro, eu falo para a galera: 'Ó, isso aqui é o meu pagamento de trabalho, e com o resto vamos fazer gincana.' E, nessa gincana, já conseguimos várias coisas: roupa emprestada, carro etc.”, comenta Gonzales. “Os amigos podem ajudar no próprio trabalho em si. Já tive amigos que participaram nos levando de carro para a locação, carregando equipamento e até atuando. De repente, a gente não tem verba para chamar aquele ator, mas tem um amigo que atua ou que tem desenvoltura e que toparia fazer o personagem”, completa Felipe O'Neill, diretor de clipes como “Bad Girl”, do Fuzzcas (ao lado de Guilherme Scarpa), e “Nunca sofri por amor”, de Brunno Monteiro (com Erick de Souza).
6. Contar uma história
Vários clipes icônicos contam uma história, como se fossem um curta-metragem, deixando a música como trilha sonora para aquela trama. Se a história for boa, a chance de o público querer assistir outras vezes e compartilhar aumenta. “Quanto mais cinematográfica for a forma na qual você fizer, mais as pessoas vão querer ver o clipe”, acredita Rabu.
7. Considere a gravação ao vivo como uma possibilidade
“Um show tem vários elementos que contribuem para você fazer um clipe gravado ao vivo: um cenário bacana, todo mundo com figurino bom, uma luz adequada. Então, já está propício a ter um registro”, enumera Felipe O'Neill. “Tem uma outra onda que está acontecendo agora nos clipes de rap, que são feitos com plano-sequência, alguns até em um só. Isso arrebentou. É uma coisa bastante válida também”, explica Gonzales.
8. Permita-se ousar
Às vezes, fugir dos padrões pode fazer a diferença. Se acreditar em uma ideia que fuja das regras, arrisque. “Fiz um clipe do MC Xamã (da canção “Sou tão louco às vezes”) que tinha um minuto só de introdução. O vídeo ficou com seis minutos ao todo. Mandei para um amigo assessor de imprensa, que falou: 'Esse começo está muito grande, as pessoas não vão querer ver.' Apostei que sim, e hoje o clipe, independente, está chegando a 200 mil visualizações. Então, se seguir sempre as dicas, você pode acabar moldando seu clipe de acordo com informações que não necessariamente são legais para o seu trabalho”, diz Gonzales.