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Geisan Varne e um inovador projeto de educação musical
Publicado em 08/03/2017

Baixista baiano, que se divide entre Salvador e Los Angeles, criará escola de música itinerante para rodar o Nordeste

Por Kamille Viola, do Rio

Há anos dividindo-se entre Salvador e Los Angeles, o baixista Geisan Varne tem muita história para contar. Viveu por 19 anos nos Estados Unidos (onde estudou nos prestigiados Musicians Institute, em Los Angeles, e The New School, em Nova York), já acompanhou grandes nomes — como Jimmy Cliff, Carlinhos Brown, Marcelo D2 e Tony Garrido, entre outros —, fundou o selo Urban Jungle ao lado de André Burgeois e lançou discos solos no Brasil e no exterior. Mas isso não foi suficiente para o artista baiano, que, agora, debruça-se sobre o projeto “O Som Nasce Para Todos”, um filme com artistas de dez estados brasileiros e que se desdobrará em uma escola itinerante para crianças e jovens pobres no interior do Nordeste.

“Vou ensinar a crianças paupérrimas numa escola de música estritamente nordestina. Ela já tem o estilo dentro dela, então é muito mais fácil de assimilar. Quero tentar, com uma nova visão e abordagem, fazer uma escola itinerante de música extremamente brasileira para crianças que nem têm o que comer. Além dos brasileiros, vou trazer músicos de vários países. Eles vão receber conselhos, por exemplo, do [guitarrista] Scott Henderson. Quem sabe ali, daquele lugar ermo — é no silêncio que a música nasce —, não sai um gênio, como saiu um Djavan?”, sonha Varne.

Ele mesmo começou na música muito cedo. Aos 6 anos, deu os primeiros passos na bateria. Aos 8, aprendeu a tocar violão. Aos 12, finalmente encontrou o companheiro que viria a se tornar inseparável: o baixo. Com 15, ingressou na Ama (Academia de Música Atual), fundada por Aderbal Duarte, Sergio Souto e Thomas Grutzmacher. Em seguida, estudou contrabaixo acústico e o básico de música erudita na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mais tarde, viriam a New School of Music, onde fez a graduação em Jazz e Música Contemporânea, em Manhattan, e o Bass Institute of Technology (BIT), no Musicians Institute, em Los Angeles. Voltou ao Brasil, mais precisamente ao Rio de Janeiro, ao se casar com uma cantora carioca. Na cidade, se formou em Tecnologia de Gravação e Produção Fonográfica na faculdade Estácio de Sá, tendo como professor Mayrton Bahia.

A partir daí, ele produziu discos nos Estados Unidos e passou a compor trilhas sonoras brancas (que não possuem royalties, o artista vende pelo pacote) para Hollywood. Varne lançou trabalhos por selos estrangeiros e atualmente divulga seus discos mais recentes, ambos independentes, o instrumental Virtuose moderado: a dança dos opostos e Brasil sonoro, com participações de Paula Lima, Max de Castro, Marcelo D2 nos vocais, entre outros, além de Max Suzano e Naná Vasconcelos na percussão. “Lancei os dois ao mesmo tempo porque eles se complementam. São como noite e dia. A noite é o instrumental e o dia é a música cantada”, compara o artista.  

Se ele comemora a facilidade para produzir música nos dias de hoje, também observa a dificuldade que um artista tem em se destacar em meio a tantos lançamentos. “Eu ando com um computador com milhões de plug-ins maravilhosos, digamos que em uma hora poderia fazer uma música. Está pronta? Vai chamar a atenção de quem com ela?”, indaga. “Fui 'roommate' do Béco Dranoff [produtor musical e cinematográfico] em 1993/94, e ele dizia: 'Eu não dou conta de tanta música, tanto músico.' É muita sorte você cintilar em algum projeto, porque em geral as pessoas não param para ouvir. O mundo está acelerado. O que faz prender a atenção das pessoas hoje?”, deixa no ar.

Os discos, no entanto, estão em segundo plano no momento: a prioridade é o projeto O Som Nasce Para Todos, recém-aprovado na Lei de Incentivo à Cultura e em fase de captação. “Existe um mundo dentro de você para explorar. Queria falar pra esses meninos (emociona-se): 'Dentro de você tem uma luz musical, não deixa apagar, explora suas raízes, a música vem pelo ar'”, acredita Geisan Varne, que lamenta a falta de engajamento no projeto por empresas de instrumentos brasileiras. “Fui a todas pedir doação de instrumentos e ninguém deu. Fui nos Estados Unidos e as pessoas se prontificaram. Quero ajudar esses meninos. Analfabetismo musical no país da música é algo muito triste”, diz.


 

 



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