Um dos maiores produtores da história da música, intrinsecamente ligado à bossa nova, à MPB, à Tropicália e ao BRock, ele tinha 86 anos e, há quatro meses, teve um câncer diagnosticado
Do Rio
Foto de Miguel Sá
Por anos, décadas, não havia grande carreira na música nacional que não passasse por ele. Natural da Síria, com trajetória iniciada na França e consagração no Brasil, país aonde chegou em 1955 e que, depois de um hiato nos EUA, adotou de vez em 1968, André Midani foi não só um dos maiores produtores musicais que já tivemos. Era um conselheiro, um arquivo vivo e um bom amigo que impulsionou, produziu ou potencializou nomes como Elis Regina, Raul Seixas, Tim Maia, Jorge Ben Jor, Kid Abelha, Erasmo Carlos, Chico Buarque, Belchior, Hermeto Pascoal, Titãs, Nara Leão, Gilberto Gil, Ira!, Paulinho da Viola e Caetano Veloso, em gravadoras variadíssimas, como Odeon, Capitol, WEA, Philips, EMI, Universal, Warner.
Morto na noite de quinta-feira (13), aos 86 anos, no Rio de Janeiro, vítima de um câncer descoberto há apenas quatro meses, Midani vai deixar uma legião de “órfãos” musicais. Gente como o produtor Liminha, que, num emocionado texto no Instagram, chamou o sírio-brasileiro de “mestre dos mestres”.
“Com ele aprendemos muito. Eu não teria feito tudo o que fiz sem seus ensinamentos e a liberdade que me deu para criar. A música no Brasil não seria o que foi sem a sua presença, seu entusiasmo, seu olhar artístico, sua sensibilidade e sua firmeza de não permitir ingerências de fora”, elogiou Liminha, destacando a ligação fundamental de Midani com a bossa nova, a Tropicália e o BRock e concluindo com “obrigado, André, por tudo o que você fez por mim, pelas pessoas, pela música e pela arte.”
A afabilidade, o espírito livre e o estímulo ao talento e à criatividade — mas também a crítica direta, sem rodeios, e as palavras certas para melhorar ou descartar por completo uma ideia imperfeita — são marcas do trabalho do produtor, que deixarão saudades em todos os que tiveram algum tipo de contato profissional e pessoal com ele.
Como o diretor-executivo da UBC e presidente do Conselho de Administração da Cisac, Marcelo Castello Branco. “Amigo, mentor, visionário, inspiração para sempre. Nunca trabalhamos juntos, mas nos aproximamos de maneira determinante e definitiva para a minha vida. Suas palavras eram plumas ou toneladas. Ambas repercutiam por muito tempo, às vezes para sempre. André nunca foi muro, sempre foi passagem”, descreveu Castello Branco.
Presidente da Sony Music Brasil, Paulo Junqueiro lembrou uma clássica frase de Midani: “Menino, para fazer, tem que fazer direito”, e resumiu: “Se a indústria da música pudesse ser chamada por um nome, seria André Midani.”
Considerado uma das 90 pessoas mais importantes da indústria mundial de discos pela revista “Billboard”, em 2005 ele foi condecorado com a Legião de Honra pelo governo francês.
O velório ocorre nesta sexta-feira, no Rio, e é fechado para familiares e amigos. Midani deixa dois filhos, Antoine e Philippe, da união com a psicanalista Vera Maria Perestrelo.