Artistas que assumiram as rédeas da própria carreira falam sobre a ajuda providencial que recebem de amigos, parceiros, familiares e até fãs para dar conta de administrar tudo
Por Roberto de Oliveira, de Belford Roxo (RJ)
Começar ou manter-se numa carreira musical num país em crise há alguns anos exige muito esforço. No caso do artista independente, esse esforço é maior, pois quem não pode pagar pelo trabalho alheio tem que assumir tudo sozinho ou... contar com o valoroso apoio de voluntários. Renata Cobre, produtora da banda Cabeça de Nego (foto) e de outros artistas da Baixada Fluminense, sabe disso. Ela diz que, na maioria das vezes, o artista independente conta com um fã, articulado e interessado em ver a roda do artista girar. “Eu observo que, muitas vezes no mercado, o artista conta com alguém que tem esse perfil, e é essa pessoa que vai ajudar a moldar a carreira dele até que encontre alguém especializado”, explica.
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O grupo Ballet Underground, formado há menos de dois anos e idealizado pela multi-instumentista Anna Lu, que também é bailarina profissional, quebrou um paradigma da indústria fonográfica ao entrar na programação de uma das maiores rádios comerciais do eixo Rio-São Paulo mesmo sem uma estrutura profissional. Isso aconteceu quando uma empolgada fã decidiu investir tempo na banda. “A Adriana Marques é assessora de imprensa. Ela foi a um show, gostou e trabalhou para a gente sem cobrar”, conta Anna Lu, ressaltando que, depois, Adriana passou a receber e ter participação nos lucros. Recentemente, a banda ganhou também uma produção profissional. Ou seja, os empurrões que recebe vão ganhando uma pegada cada vez mais estruturada. O trabalho tipo força-tarefa, com direito a e-mails disparados para várias rádios, permitiu que, depois de entrar na programação da Transamérica, o single “Come to save me” fosse executado em mais de uma dezena de rádios, inclusive uma na França.
Renata Cobre, do Cabeça de Nego. Foto de arquivo pessoal
Jonathan Ferr, pianista de 30 anos, também conta com fã para ajudá-lo - neste caso, uma fã mais do que especial. “Sula Ferr, minha irmã, é estilista e produz meu figurino. Hoje tem algumas marcas que me vestem, mas é com ela que eu posso contar, e a Tânia Artur é produtora, advogada, trabalha com administração e desde o início acreditou muito em mim. Hoje ela é minha manager e sócia no Festival Jazz Out”, afirma o músico, que faz um jazz que chama de urbano, para fugir do estilo de jazz mais tradicional, e é uma das atrações confirmadas no Espaço Favela, palco que é uma das novidades do próximo Rock in Rio.
Contar com ajuda externa é fantástico. Ainda mais se o grupo principal de artistas já é numeroso e consegue se virar nos 30. Tudo o que vem a mais soma e ajuda a alavancar o projeto. É assim com a banda de rock Drenna. Além de ensaiar, compor e fazer shows, os integrantes se dividem em funções fora do palco para que a carreira continue avançando. Todos opinam no som, mas a cantora (Drenna) faz a curadoria dos vídeos, enquanto Milton Rock, o baterista, é quem faz o contato com contratantes e cuida da agenda de shows. O guitarrista (Junior Macedo) fica responsável pela sonoridade e arranjos e tenta tirar o melhor som da banda no estúdio, e o baixista (Bruno Moraes) é fotógrafo profissional, então já faz a parte da comunicação visual. Mesmo assim, todo o esforço adicional é bem-vindo.
“Parceiros como o produtor Silvio Felix, que trabalha no escritório dos Paralamas do Sucesso, e a figurinista Luana Ribeiro, que também trabalha em uma grande empresa de roupas, contribuem de forma espontânea para que a banda consiga um espaço no cenário nacional”, ressalta Milton Rock.
A banda Drenna
O cantor curitibano Ed Sena (29 anos), não tem empresário, produtor ou divulgador. Por isso, estuda cada área da cadeia produtiva da música para saber um pouco de tudo. Por não ter quem gerencie todas as redes sociais, o cantor acaba focando nas mais vantajosas, como o Instagram, para atingir o público jovem, e o YouTube, que dá métricas que possibilitam direcionar o conteúdo e as músicas para ouvintes específicos. “É muita carga em cima (do criador) que não é artística” diz o cantor. Para amenizar pelo menos os custos, Ed Sena conta com parceiros que facilitam o pagamento ou dão um bom desconto para gravar novas músicas em estúdio e videoclipes. “Eles acabam fazendo uma rede colaborativa, e uma galera de músicos que sempre faz o mesmo trabalho com eles ganha um desconto legal”, diz o cantor.
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