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Compositores perderão quase € 3 bi por conta da IA até 2028, diz estudo
Publicado em 31/01/2024

Análise das sociedades de autores Gema (Alemanha) e Sacem (França) mostra ainda que música gerada por máquinas crescerá 60% ao ano

De Belo Horizonte

Em apenas cinco anos entre 2023 e 2028, compositores terão uma perda de € 2,7 bilhões (R$ 14,5 bilhões) por conta da expansão da inteligência artificial generativa aplicada à criação musical. Esta é uma das diversas conclusões às quais chegou um amplo estudo elaborado pela consultoria Goldmedia a pedido de duas das principais sociedades de gestão coletiva do planeta, a francesa Sacem e a alemã Gema. Com análises e dados dos dois países europeus e do resto do mundo, o trabalho previu ainda uma expansão anual de 60% no total de canções criadas por máquinas, sem interferência humana, que poderão gerar receitas de € 3,1 bilhões (R$ 16,66 bilhões) somente em 2028 — sem, claro, qualquer benefício para compositores humanos. 

Para se ter uma ideia do que esses números representam, em 2023, ano-base dos dados, a música gerada por IA totalizou € 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) em receitas, o que significa que multiplicará seu peso por dez em apenas cinco anos. Não à toa, 71% dos criadores franceses e alemães disseram aos pesquisadores que têm medo de não serem mais capazes de viver de música, à medida que o avanço da criação robotizada de conteúdos artísticos parece imparável. 

LEIA MAIS: Os principais destaques do estudo, na íntegra (em inglês)

Só em 2028, segundo o trabalho da Goldmedia, a perda dos criadores com sua substituição por máquinas poderia chegar a € 950 milhões, ou mais de R$ 5,1 bilhões. 

“Uma competição cada vez mais predatória espera pelos criadores, especialmente em áreas onde a IA é particularmente propensa a substituir a música feita por humanos”, diz um trecho do estudo. 

Na França e na Alemanha, por exemplo, essas áreas são a música eletrônica (54% dos criadores desse gênero nos dois países já usaram softwares de IA generativa para criar trechos ou músicas inteiras); música urbana e rap (53%); música para publicidade (52%); música para bancos de sons licenciados (47%); e música para audiovisual (46%). 

Um percentual nada desprezível de 35% dos associados da Gema e da Sacem admitiram já usar inteligência artificial quando compõem. Em oposição a eles, 19% disseram que jamais o farão. 

Apesar do percentual alto de pessoas que já aderiram, 64% dos entrevistados disseram que os riscos da difusão sem limites da IA generativa na criação musical são maiores do que os benefícios do seu uso. E só 11% opinaram o contrário. 

O estudo cita um dos principais problemas da atualidade neste contexto de expansão acelerada da IA generativa: a falta de remuneração aos criadores humanos pelo uso de suas músicas na elaboração dos bancos de dados que, depois, “criarão” novas músicas. 

“Apesar de as obras protegidas por direitos autorais serem usadas como dados de treinamento para modelos de IA generativa e, portanto, formarem a base fundamental para a origem e desenvolvimento do mercado, autores e criadores não participam das imensas perspectivas de crescimento”, descreveram os autores do trabalho.

A preocupação dos autores com o tema ficou muito evidente: 95% dos filiados à Gema e a Sacem pedem que os desenvolvedores de softwares de IA generativa sejam obrigados a revelar que trabalhos criados por humanos foram usados no treinamento dos seus sistemas, e 90% deles pedem remuneração por esse uso – por exemplo, através de uma licença coletiva paga pelas plataformas de IA. 

Este é um dos temas que vêm sendo discutidos na futura Lei de IA da União Europeia, cujo texto-base, e bem pouco específico, foi aprovado em dezembro e que, ao longo dos próximos meses, será redigida e votada no Parlamento Europeu. 

A grande maioria dos criadores entrevistados (89%) quer ainda que as plataformas sejam obrigadas a revelar ao público quando uma música tiver sido criada por IA. E 90% pedem que os autores das músicas usadas nos bancos de dados das plataformas de inteligência artificial sejam consultados antes da inclusão. 

“Desde novembro de 2022, com o advento do ChatGPT da OpenAI, a inteligência artificial generativa e sua rápida disseminação para o público têm levado a um boom de IA excepcionalmente acelerado. Cerca de US$50 bilhões terão sido investidos em tecnologias de IA (até 2032), apenas na Europa, sendo $16 bilhões na Alemanha e $12 bilhões na França”, afirma outro trecho do estudo, alertando para a necessidade de os legisladores se preocuparem em proteger os empregos dos criadores humanos, que poderiam se ver seriamente ameaçados por uma expansão sem critérios ou limites da IA generativa.

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