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Por que o Goldman Sachs prevê um mercado musical de US$ 131 bi em 2030
Publicado em 23/06/2022

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Relatório do banco internacional reforça ideia de que, no mundo dos investimentos, a música é a bola da vez

Por Alessandro Soler, de Belém

O mercado musical global poderá experimentar uma expansão sem precedentes nos próximos oito anos, tornando este último biênio de encolhimento provocado pela pandemia o típico passo atrás que antecede um grande salto adiante. Ao menos é o que prevê a edição 2022 do relatório Music in The Air, elaborado anualmente pelo Goldman Sachs com base em cifras de arrecadação de direitos autorais, vendas de discos, números do streaming, receitas com shows etc. Os cálculos do banco de investimento levaram a uma estimativa de US$ 131 bilhões para o universo musical como um todo em 2030, coisa de R$ 680 bilhões pelo câmbio atual. 

Só a indústria fonográfica, pelas previsões da analista Lisa Yang, do Sachs, capturaria 40% dessa bolada, somando US$ 52,3 bilhões, ou o equivalente a R$ 271 bilhões. O otimismo em relação ao relatório do ano passado é evidente: ali, a estimativa para o tamanho do mercado de música gravada em 2030 era de US$ 45 bilhões. Se a previsão dos 52 bi se cumprir, a indústria fonográfica gerará dentro de oito anos simplesmente o dobro dos US$ 26 bilhões somados ano passado nas contas da IFPI. 

Mas afinal, o que é que explica essa aposta tão alta?

O mesmo fenômeno, dizem analistas, que ajuda a entender as cessões multimilionárias de catálogos, as compras e vendas de NFTs musicais e as recentes fusões e aquisições de grandes gravadoras e editoras por outras maiores: a música se tornou mesmo um "asset", e dos bons. 

"A necessidade de diversificar investimentos levou o mercado internacional a adquirir catálogos. É uma securitização dos direitos musicais: o catálogo virou um produto que se coloca no mercado para ser alugado, comprado, explorado, e isso vai gerar frutos para o investidor. Está entrando muito dinheiro, e vai entrar ainda mais", disse Ygor Valerio, advogado especializado no mercado musical e em direitos autorais, e sócio do escritório CQS/FV - Cesnik, Quintino, Salinas, Fittipaldi e Valerio Advogados. 

LEIA MAIS: Artistas e especialistas comentam a onda de compra e venda de catálogos

Arthur Farache, diretor-executivo da Hurst Capital, um fundo de investimento que diz já ter captado R$ 12 milhões em 19 operações relacionadas com royalties musicais no Brasil, é um forte defensor do aporte de dinheiro na música. Seja através da aquisição total do catálogo por valores mais altos, ou de uma espécie de aluguel, em que os investidores ficam com os ganhos ligados aos royalties por um determinado período em troca de uma antecipação ao titular original dos direitos, esse tipo de operações se multiplica em empresas como a dele:

“Temos dois grandes cases de sucesso, como uma das operações do Luiz Avellar, grande compositor e trilheiro, e do Cecilio Nena, compositor de sucessos do sertanejo. Ambas as operações estão rendendo para os investidores mais do que o esperado no cenário base do investimento”, afirmou ao portal Money Times.

A grande vantagem dessa verdadeira onda de investimento na música, para Valerio, é que "ela traz para a mesa dinheiro novo. Os players de sempre - gravadoras, editoras - têm limitação. Compram catálogos umas das outras, mas é um jogo de soma zero. Quando o capital entra para comprar catálogos como security, tem dinheiro de fora. Aumenta o valor do mercado e da música."

Já a óbvia fragilidade dessa série de negociações com catálogos é o pouco entendimento do mercado de capitais sobre o universo musical. Ao não atuar como editoras nem gerir o repertório, os fundos de investimento não podem garantir aos seus clientes que o catálogo negociado vá mesmo continuar a crescer e render os ganhos com royalties e execução pública que previram.

"É um mercado que exige um grau de especialização, investir por investir não vale a pena. Não é porque comprei aquela música que vai valorizar", sintetizou Adriano Rondelli, especialista da Vetor Investimentos, uma gestora de recursos de São Paulo.

O próprio relatório assinado pela analista Lisa Yang para o Sachs evoca essa incerteza. Para a especialista, o aumento das taxas de juros como resposta à alta inflação global volta a atrair o dinheiro para os fundos de renda fixa, tornando o incerto investimento em catálogos uma opção menos atraente para pessoas não conhecedoras das nuances do mercado musical: 

"Até que não saibamos quais taxas de retorno os catálogos oferecem exatamente, este debate ainda continuará meio em aberto. Isso apesar dos cases de sucesso, como o enorme crescimento (em valor) dos catálogos do Queen e de Elton John após os lançamentos das cinebiografias 'Bohemian Rhapsody' e 'Rocket Man'", ela disse.

Para além das negociações de catálogos, porém, há outros movimentos na indústria que também justificam a estimativa de mercado superinflado em 2030. Nos últimos anos, houve um aumento notável no número de acordos entre sociedades de autores e plataformas de streaming, mundo afora, para o pagamento de royalties: 

"No Brasil, houve uma grande diminuição na litigiosidade: ficou mais corriqueiro que usuários de músicas, digitais ou não, aceitem as regras e paguem os valores devidos aos titulares. Isso permite às sociedades de autores continuarem a crescer. E ao mercado, receber mais aportes de dinheiro", analisa Valerio.

A expansão acelerada do TikTok — aplicativo que incorpora música aos seus vídeos virais de centenas de milhões de execuções — e o advento da internet das coisas, que nos trará conectividade através de objetos variados que nos cercam, também valorizam o mercado musical, ao potencialmente multiplicar muitas vezes os usos de canções no dia a dia. E o próprio setor de shows, que mostra em muitos países uma grande força de recuperação depois da paralisia provocada pela pandemia, deve trazer altas somas monetárias ao mercado nos próximos anos, assim como as assinaturas do streaming.

“Com maior inflação e piores condições econômicas, esperamos que os consumidores se refugiem mais na música, gastem mais com ela. Apesar do aumento do consumo ano a ano, ainda estamos 40% abaixo do pico histórico de investimento com música (alcançado no final dos anos 1990)", afirmou Yang no relatório.

Outra notícia que o mercado vem esperando com ansiedade é o início do pagamento de direitos conexos (aqueles devidos a intérpretes, músicos acompanhantes e produtores fonográficos) no streaming. Como noticiamos há alguns dias aqui no site, a França já começou a testar esse modelo ao alcançar um acordo histórico entre produtores e titulares de conexos. Isto, claro, injetaria ainda mais dinheiro no mercado da música nos próximos anos, algo em que o Goldman Sachs também levou em conta em sua previsão.

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