Hit “Envolver” atinge a marca nesta sexta; mas o que isso significa para a música brasileira?
Por Chris Fuscaldo, do Rio
Cena do clipe de "Envolver": aposta pessoal de Anitta e dancinha viral no TikTok ajudam a explicar o fenômeno. Crédito: Reprodução
O pop brasileiro venceu. E o troféu de maior atacante da história recente da nossa música vai para Anitta, que fez um golaço ao chegar ao primeiro lugar da parada de sucesso Global do Spotify nesta sexta-feira, dia 25 de março, com “Envolver”, alcançando a marca de 6.391.619 reproduções na plataforma. Cantada em espanhol, a música já sacudiu os fãs quando entrou no TOP 10, arrepiou a indústria ao avançar para o TOP 5 e, hoje, figura em primeiro. Até a véspera, estava atrás apenas de “Heat Waves“, do Glass Animals, e na frente de “Stay”, de Kid Laroi e Justin Bieber. Anitta é a primeira pessoa da América Latina a conseguir o feito.
Ao alcançar o topo da lista, ultrapassou nomes como Camila Cabello, Doja Cat, Dua Lipa e Adele. No Spotify Brasil, “Envolver” também está em primeiro lugar, com 4.137.873 reproduções. No YouTube, o clipe da canção está em oitavo na lista global de vídeos. “Cada posição é comemorada feito um gol não só no time de comunicação, mas em todas as áreas. Estamos muito felizes por ela”, celebrou Paulo Pimenta, assessor dela.
Para Sérgio Affonso, presidente da Warner Music Brasil, este é um momento importante:
“Hoje é um dia importante e aguardado pela música brasileira. Finalmente o reconhecimento merecido para a jovem música do Brasil. Anitta abriu e pavimentou a difícil estrada do sucesso Global. Nós, da Warner, estamos muito orgulhosos”, disse.
“Envolver” foi lançada em novembro de 2021. Anitta foi, desde o começo, quem mais apostou no potencial da música, investindo pessoalmente na sua divulgação. O clipe é, sem dúvida, um dos mais – senão o mais – simples dentre os lançados por ela. O diferencial do vídeo é a dança, conhecida agora como “El Paso de Anitta”: a cantora se deita no chão e rebola apenas com os pés e mãos apoiados.
Meses depois das primeiras postagens de Anitta dançando no Tik Tok, uma campanha liderada pelos fãs brasileiros fez o passo viralizar. Reproduzido por centenas de pessoas, El Paso de Anitta resgatou a faixa em março deste ano, e ela acabou atropelando os últimos lançamentos, “Boys Don’t Cry” e a versão remix de “Envolver”, uma parceria com Justin Quiles que não bombou ainda como a original.
Num vídeo publicado em suas redes sociais na noite de sexta-feira (25), Anitta atribuiu o resultado a muito trabalho. "Não foi sorte", resumiu, antes de explicar:
"Isso foi muito difícil, gente, é resultado de muito trabalho. A viralização dessa música começou fora do Brasil, então assim, é algo que é fruto de muito trabalho, de anos e anos de persistência, de bater na trave e acreditar que vai vir o gol, que vai acontecer. Só quero agradecer a quem não me abandonou nesse tempo todo que eu falei que ia dar certo, ia dar certo, ia dar certo, e agradecer o apoio de todos os brasileiros. Estou muito feliz!"
Ela afirmou que essa posição inédita para a música brasileira abre portas a outros artistas. "Espero que muito mais gente passe por essa porta que eu abri. Vou mantê-la aberta pelo maior tempo que eu puder. E espero que venham mais muitos brasileiros passando por essa porta que foi aberta com muita dificuldade."
Se depender do tamanho do mercado brasileiro, onde a grande quantidade de assinantes de serviços de streaming ajuda a bombar os artistas do país, virão mesmo mais bons resultados pela frente. Quem explica isso é Michele Miranda, que foi curadora de playlists oficiais no Spotify e hoje trabalha no marketing e gerenciamento estratégico de artistas diversos:
“Os fãs brasileiros podem e devem se sentir uma parte muitíssimo importante desse feito. Explico: o Brasil está entre os 3 maiores do Spotify em número de usuários. Portanto, não é raro ver artistas do sertanejo, funk e pop figurarem no chart global do Spotify. O volume de plays brasileiro é muito poderoso. Um artista que queira se lançar internacionalmente precisa contar com os plays daqui”, afirma.
Michele explica ainda que o Brasil integra o time Latam, que inclui o México, outro gigante em plays, com playlists editoriais poderosíssimas, além da força dos outros países da América do Sul. “E, como Anitta vem construindo sua carreira como uma das artistas mais relevantes do Brasil há alguns anos, ela já tem seu nome consolidado como prioridade global pelo time de música toda vez que lança uma novidade. Conforme a música vai crescendo, ela ganha espaços editoriais ainda maiores. Não é mágica o que Anitta está fazendo, é consistência”, resume Michele.
Quem faz coro é Marcelo Castelo Branco, diretor-executivo da UBC:
"A análise desse caso tem que ser feita sobre a determinação da artista. Esse não é o resultado de uma música só. É a consequência de um trabalho feito há cinco anos. Geralmente, o artista brasileiro acredita que fazer sucesso no exterior é realizar uma turnê lá fora para a comunidade brasileira. Esse exemplo a gente já viu várias vezes. Com um trabalho consistente, Anitta foi além e quis entender onde estava pisando, investindo tempo e conhecimento nisso, além da construção de redes. Nos meus quase 40 anos de carreira, nunca vi alguém se jogar dessa maneira. Anitta é a primeira superstar brasileira global da era das redes sociais, uma Carmen Miranda digital", ele disse ao jornal "O Globo".
Especialista em música pop e grande admiradora de Anitta, Láisa Naiane, sócia e editora do POPline.Biz é Mundo da Música, portal dentro do POPline especializado no mercado musical, vai além, clamando por um Grammy: “Challenge (no TikTok) é uma estratégia muito importante. Tem criança, tem idoso, todo mundo fazendo aquele passo que vai pro chão. ‘Envolver’ virou um hit e foi abraçada em escala mundial. Quase 4 milhões de streaming em um dia! É um hit global! Anitta veio para escrever uma nova história. O mercado dizia que, se uma canção não bombasse de primeira, não bombaria mais. O Tik Tok nos mostra que as canções podem crescer ao longo do tempo. Anitta acreditou sozinha na música. É o feeling do artista que sabe que vai dar certo. Certamente ela vai trazer o primeiro Grammy, que já deveria ter vindo com ‘Dowtown’”.
“Envolver” estará no álbum “Girl From Rio”, a ser lançado em abril.
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