Alta forte no streaming é locomotiva do bom resultado; Brasil tem salto de 32%, diz Pro-Música
De Londres* e Rio
Mesmo com a pandemia ainda ativa, a música gravada cresceu 18,5% em 2021 no mundo todo, graças ao avanço nas assinaturas premium do streaming. É o que mostra o Relatório Global da IFPI, a associação que representa a indústria fonográfica internacional, divulgado nesta terça-feira (22). Em números absolutos, as receitas da música gravada alcançaram US$ 25,9 bilhões ano passado.
O peso do streaming na geração de renda para gravadoras, produtores fonográficos, artistas e compositores, além de outros profissionais da cadeia criativa musical, é cada vez mais forte. Quase metade de tudo o que o setor gera, ou US$ 12,3 bilhões, vem das assinaturas pagas pelos ouvintes das plataformas. O crescimento dessa fonte de receita foi ainda maior do que a média geral, chegando a 21,9% em relação a 2020. No total, segundo os dados da IFPI, em 31 de dezembro havia 523 milhões de assinantes pagantes em plataformas como Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon e outras.
Quando somamos a modalidade freemium, ou seja, de assinantes que utilizam o serviço gratuito das plataformas e que, por isso, precisam ouvir anúncios entre as músicas que escutam, a importância do streaming cresce ainda mais. Se os ganhos com publicidade nessa modalidade de assinatura forem somados ao bolo gerado, a parte do streaming vai a US$ 16,9 bilhões, ou 65% do total da indústria fonográfica.
A boa notícia para quem vive de música é que outras fontes de receitas também cresceram, mesmo com as dificuldades para a retomada completa do setor de shows, por exemplo. Os formatos físicos (vinis, CDs) e a execução pública tiveram expansões de, respectivamente, 16,1% e 4,04%.
"As gravadoras estão cada vez mais envolvidas, em todo o mundo, no apoio à cultura musical local, no desenvolvimento de novos ecossistemas musicais, buscando oportunidades para potencializar globalmente a música das zonas onde atuam. Conforme mais mercados amadurecem, acabam contribuindo para enriquecer ainda mais a música global. Os fãs estão ouvindo mais música do que nunca, o que cria enormes oportunidades para os artistas", disse Frances Moore, diretor-executivo da IFPI, que exaltou a capacidade das gravadoras para adaptar-se aos novos formatos e tendências e ajudar a inserir melhor a música dos artistas que representam:
"Do metaverso às músicas inseridas em videogames, as gravadoras têm investido nas pessoas e nas diferentes tecnologias para oferecer experiências novas e altamente interativas, multiplicando as maneiras pelas quais os artistas se conectam com seus fãs."
Bom momento para o Brasil
O Brasil, maior mercado latino-americano, disparou 32% no total das receitas geradas pela música gravada em relação a 2020. O desempenho notável não foi suficiente, porém, para devolver o país ao top 10 dos maiores mercados globais para a música gravada, uma lista que leva em conta o total gerado em dólares, num ano (2021) em que a moeda americana se valorizou 7,5% em relação ao real. Atualmente, o país ocupa a 11ª posição no ranking.
No relatório da IFPI —divulgado na mesma semana em que se conheceu a entrada da faixa "Envolver", de Anitta, no top 5 global do Spotify, melhor posição da história da cantora e compositora—, especialistas previram um período florescente para o pop nacional. Para Skander Goucha, vice-presidente e encarregado de novos negócios digitais na Universal Music da América Latina e Península Ibérica, "novos hits globais vindos do Brasil são esperados", e poderiam vir de gêneros tão diferentes como o funk, o pop e o sertanejo.
Números e perspectivas positivos também estão presentes no relatório da Pro-Música, a associação da indústria fonográfica nacional, divulgado nesta quarta (23). O crescimento do mercado, pelo sexto ano consecutivo, levou a indústria fonográfica nacional a alcançar R$ 2,111 bilhões (US$ 391 milhões) em 2021. A arrecadação de direitos de execução pública para produtores, artistas e músicos atingiu R$ 280 milhões, um aumento de 19,1% em relação a 2020, ano mais impactado pela pandemia neste segmento de receita.
O streaming foi, mais uma vez, o carro-chefe do crescimento: com alta de 34,6% em só um ano, gerou R$ 1,806 bilhão, ou 85,6% do total do mercado. As receitas de vendas físicas representaram apenas 0,6% do total das receitas da indústria fonográfica, atingindo R$ 12,2 milhões. No físico, os CDs ainda foram o formato mais comercializado em 2021, com faturamento total de R$ 7 milhões (crescimento de 56,5%), seguido pelas vendas de DVDs, com R$ 2,8 milhões (+337%), e discos de vinil, com R$ 2,3 milhões (+28,1%). Já os downloads, mobile & outros alcançaram apenas R$ 5,9 milhões (-51%), mantendo a tendência dos últimos anos, influencia direta do crescimento contínuo do streaming.
“Após dois anos de pandemia, quando optamos por não divulgar localmente as estatísticas do mercado brasileiro, a Pro-Música retoma seu papel de principal fonte de informações sobre o setor de música gravada no País. Este relatório, apesar do foco em 2021, contém detalhadas informações sobre como o mercado comportou-se em 2020 e 2019, com a finalidade de cobrir esta lacuna em nossas estatísticas", disse Paulo Rosa, presidente da Pro-Música, que prevê uma constante expansão do streaming pago, que permite melhores pagamentos aos titulares e gera mais recursos para a indústria como um todo:
"O potencial de crescimento no Brasil ainda é grande e, se contarmos com uma melhora dos indicadores econômicos para os próximos anos, pode ser ainda maior."
A força do maior mercado traria um grande impacto para toda a região, como já ocorreu este ano. Graças ao bom desempenho do nosso país e também do México (crescimento de 27,7% no ano passado), a América Latina teve a segunda maior expansão percentual no mercado de música gravada em todo o mundo. A disparada de 31,2% só ficou atrás dos 35% do Oriente Médio & Norte da África, outra das zonas globais nas quais a IFPI divide seu relatório.
Confira os resultados do relatório da IFPI por cada um desses grandes territórios:
A Ásia cresceu 16,1%, com seu maior mercado, o Japão, expandindo-se 9,3%. Também graças ao Japão, onde vinis e CDs ainda são muito fortes, a região asiática responde por 49,6% de todas as vendas de mídias físicas no mundo.
A Oceania teve um crescimento de 4,1%. A Austrália (+3,4%) se manteve no top 10 de maiores mercados globalmente. Já a Nova Zelândia viu como uma forte expansão no seu streaming contribuiu para um salto anual de 8,2% no mercado de música gravada no país.
As receitas na Europa, segundo maior mercado musical para a música gravada, tiveram um aumento de 15,4%, notável diferença em relação à expansão de 3,2% registrada em 2020. Os maiores mercados da região experimentaram, todos eles, crescimentos de dois dígitos: Reino Unido (+13,2%), Alemanha (+12,6%) e França (+11,8%).
A América Latina, como já dissemos, viu seu mercado de música gravada aumentar em 31,2%. O streaming respondeu por nada menos do que 85,9% de toda a receita gerada na nossa região, uma das maiores proporções entre todas as regiões do planeta.
Oriente Médio e Norte da África – apresentados como uma região própria pela primeira vez, os países que compõem estas duas zonas tiveram altas de 35,0% no dinheiro gerado com música gravada. O streaming ali já equivale a 95,3% do mercado.
África Sub-Saariana – separada pela primeira vez do Norte da África, essa enorme área teve crescimento de 9,6% em 2021, com o streaming, claro, como grande locomotiva. Ali, diferentemente do que ocorre em outras zonas do planeta, as assinaturas freemium são as mais importantes, e o dinheiro gerado por elas teve alta de 56,4%.
Estados Unidos e Canadá, juntos, cresceram 22,0% em 2021, com os Estados Unidos liderando a expansão — 22,6%, contra 12,6% do Canadá.
*Com informações da IFPI
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