Björn Ulvaeus reafirma compromisso de lutar por melhor remuneração para os autores no streaming
De Berlim e Rio*
Foto: Olle Andersson
Desde que assumiu a presidência da Cisac — Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores — em pleno confinamento, em maio do ano passado, o sueco Björn Ulvaeus estabeleceu objetivos pessoais muitos claros para sua gestão: melhorar a remuneração aos autores, sobretudo no streaming, e garantir-lhes um bom lugar à mesa entre os grandes players do mercado musical. Um ano e meio depois, a retomada do mercado começa a ganhar forma, mas os desafios parecem maiores, depois da forte paralisação que impactou milhões de pessoas que trabalham nas indústrias criativas.
A saída, crê Ulvaeus, cofundador do mítico grupo ABBA, está no universo digital.
“Como a pandemia evidenciou, o digital, com o streaming na cabeça, se encaminha agora, sem nenhuma dúvida, para ser a mais importante fonte de receitas para os criadores musicais. As assinaturas das plataformas nos permitiram recuperar terreno à pirataria, criando oportunidades maravilhosas para os artistas. O problema é que o digital não está entregando o suficiente aos criadores. Há um retorno muito baixo para os compositores, mesmo que ocorram milhões de audições (de uma música). O bolo também não é bem distribuído: historicamente, os direitos fonomecânicos estão sobrevalorizados, enquanto os direitos autorais estão desvalorizados”, ele disse em entrevista à IU Mag, a revista da entidade de defesa dos direitos autorais alemã Initiative Urheberrecht, que representa os interesses de 140 mil criadores em diversas áreas artísticas.
Nada disso, porém, é novo, como ele admitiu:
“O que ocorre é que a Covid-19 jogou luz sobre as enormes desigualdades e falhas no sistema digital atual.”
A ideia por trás do discurso de Ulvaeus é usar a tática da água mole a bater na pedra dura. Sempre que pode, ele repete a importância vital dos criadores para a constituição da cadeia de valor musical:
“Se entendemos que uma canção ou qualquer obra criativa de qualquer repertório é a base das indústrias criativas, por que então devemos aceitar a quase invisibilidade do criador nessa cadeia?”
Pesquisas recentes do próprio Spotify sobre hábitos de consumo dos seus assinantes mostram que, quando alguém faz uma busca de uma obra para escutar, é a música o que o interessa, e não o intérprete por trás dela, mesmo que este intérprete seja uma estrela. A obra em si vale muito, e ela pode — e deve — ser reivindicada por quem a escreve. Dizer essas coisas com clareza, crê o presidente da Cisac, ajudará público, streaming e outros atores do mercado a entenderem sem dúvidas quais são o peso e a importância de quem cria.
“Tudo o que conquistei com o ABBA se deve ao copyright e direitos autorais. É isso que eu quero para outros criadores, por isso me uni à Cisac e por isso quero ajudar a entidade e seus membros na missão de apoiar os criadores em todo o mundo”, afirmou à revista alemã.
Outra das ações que tem ganhado grande atenção da gestão atual da Cisac, e sobre a qual já falamos em repetidas ocasiões nos canais informativos da UBC, é a conscientização dos criadores de trilhas sonoras sobre a natureza dúbia dos contratos do tipo buy-out, muitas vezes impostos a eles por produtores de filmes, séries e outras obras audiovisuais. Ao abrir mão dos direitos autorais futuros em troca de um pagamento único, os autores são sub-remunerados e renunciam à justa participação sobre os lucros obtidos com a exploração das suas criações.
Por isso, a Cisac se uniu à organização americana Your Music, Your Future numa campanha global de educação sobre o tema, com direito, inclusive, a site em português, que tem apoio da UBC.
LEIA MAIS: Acesse o site em português da iniciativa Your Music, Your Future
Para concluir, Ulvaeus deixa três sugestões bem claras para quem quiser a ajudar a empoderar os autores musicais:
LEIA MAIS: Parlamento Britânico pede ‘reset’ completo do streaming, para que autores sejam mais bem-remunerados
*Com informações da UBC e da IU Mag