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Na retomada dos shows, a indústria musical pede: pague o ingresso
Publicado em 19/10/2021

Produtores e artistas destacam importância vital do público para o setor se reerguer

Por Fabiane Pereira, do Rio

Marcelo D2 em frente ao Circo Voador, no Rio: três shows esta semana, dois deles já esgotados. Divulgação

 

Os últimos dias têm assistido a uma onda de casas de shows emblemáticas anunciando a retomada dos espetáculos presenciais. Com ela, uma espécie de apelo se faz ouvir entre diferentes vozes que compõem a indústria cultural, e ele pode ser resumido em três palavras: pague o ingresso. Se o momento mais sombrio da pandemia, o da paralisia, parece que vai ficando para trás, o setor cultural dependerá mais que nunca do amparo do público (financeiro, sobretudo) para se reerguer.

“O bom funcionamento do tripé casa, artista e público é o que vai definir o futuro da nossa cena”, resume Alê Youssef, ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo, idealizador do Studio SP e responsável pela volta da casa de shows a partir do próximo 19 de novembro. Além da participação ativa do público, ele prega união entre os integrantes da indústria criativa:

“Precisamos nos entender como setor, sem divisões internas e brigas mesquinhas, lutar em conjunto, com unidade. A cultura pode ser uma saída justa, próspera, sustentável e democrática para a crise que vivemos. É um setor que gera muito emprego e renda. É necessário fazer com que a elaboração dos processos políticos e planos de governos de candidatos, por exemplo, preveja isto, a cultura deve ser protagonista.”

Também prestes a voltar, já nesta semana, o mítico Circo Voador, no Rio de Janeiro — que terá, a partir de quinta (21), três shows com Marcelo D2, dois deles já esgotados — é outro que espera contar com a força dos seus fiéis frequentadores. “Mesmo planejando a reabertura e respeitando todos os protocolos (como máscaras sob a lona), além de receber uma quantidade de público que não chega a pagar os custos completos do evento, teremos com a retomada muitos funcionários, artistas e técnicos com suas diárias pagas”, explica Gaby Morena, produtora do Circo e filha de Maria Juçá, uma das fundadoras da casa, que vai além:

“Sabemos que esse momento de retorno não será fácil por causa da fragilidade financeira não só do Circo, mas de todos os trabalhadores da cultura. Por isso, vamos nos levantar devagar, mas certamente com muito afeto e união.”

Outras casas de pequeno e médio porte que vão anunciando o retorno dependerão expressivamente da venda de ingressos, dados os editais minguantes e a oscilante e irregular ajuda pública durante a pandemia. A diretora artística Amanda Souza, responsável pelo empresariamento artístico da cantora Ana Cañas, da Maglore e de outros músicos, pondera que tudo é, ainda, uma grande movimentação.

“Não dá para saber exatamente o tamanho desta retomada. Mas o movimento existe e está acontecendo, tanto por parte de contratantes privados quanto do público. A maioria das consultas por datas que chegam até mim não se confirmam porque muitos contratantes ainda se sentem inseguros para investir. Eu noto que existe uma vontade, mas ainda está difícil fechar um show com cachê colocado. Acho que o medo dos contratantes passa por não saber ainda como será a receptividade do público.”

Por isso, além do apoio “moral” — de torcida, de fã —, é tão importante que as pessoas paguem o valor do ingresso. Mesmo antes da pandemia, incontáveis espaços Brasil afora sobreviviam exclusivamente do dinheiro que circula na bilheteria e no bar. Agora, ainda mais. Pedir ingresso aos artistas e programadores, avalia a indústria, ajudaria a manter a crise e a precariedade.

Juliana Linhares: "é hora de a gente lembrar ao público o valor do nosso trabalho". Foto: Clarice Lissovsky

Em algumas cidades, a própria cultura do “ingresso VIP” pode dificultar a recuperação. O empresário artístico João Felipe Severo, responsável pelas carreiras das cantoras Juliana Linhares e Julia Mestre e parceiro da Urban Jungle (responsável pelas carreiras da Céu e do Otto), diz esperar que esse hábito mude:

“O Rio, por exemplo, foi uma das cidades mais atingidas pela pandemia. A arte foi nosso maior refúgio, e acredito que o público entendeu que música é essencial para a vida de todo mundo. O prejuízo causado pela paralisação completa do setor tem sido muito propagado numa espécie de trabalho coletivo de conscientização. É importante aproveitarmos esse momento de fragilidade para deixar clara a importância da cultura.”

A cantora potiguar Juliana Linhares, radicada na capital fluminense, concorda com seu empresário. A artista fará o show de lançamento de seu disco de estreia, “Nordeste Ficção", em dezembro, na cidade:

“A gente percebeu o quanto a cultura sustentou o equilíbrio emocional da maioria das pessoas durante esta pandemia. É hora de a gente lembrar ao público o valor do nosso trabalho e impor um pouco mais de limite em relação à cota de cortesia nos shows. Talvez conversar entre nós, artistas, e propor coletivamente um diálogo mais aberto em relação a isso. Podemos usar as redes sociais nesta conscientização, porque precisamos pagar nossas contas e, na maioria dos shows, a receita gerada pela bilheteria é a única. Durante a pandemia, fizemos muitas lives gratuitas para nos acalentar e também para acalentar o público. Agora, a gente precisa desse retorno.”

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