Clima de relaxamento e contemplação está em singles e álbuns recém-lançados, como “Aurora”, de Rodrigo Sha e João Viana
Do Rio
Rodrigo Sha. Divulgação
A pandemia marcou uma guinada na música instrumental internacional. Para ajudar uma sociedade impactada pelo grande excesso de mortes, pela crise econômica – e, em muitos países, pelos problemas políticos e sociais –, compositores vêm criando obras com uma clara pegada contemplativa, relaxante.
De compositores como James Rushford (com o álbum “Música Callada”) e Chris Abraham ("As a Vehicle, The Dream I") ao megaprodutor e DJ Diplo (com o single “One by One”, por exemplo), canções com clima de som ambiente tranquilizador se multiplicam.
O DJ britânico Totally Enormous Extinct Dinossaurs foi além: usou os cantos de pássaros como base do seu mais recente álbum. E o projeto Copenema, dos músicos e produtores Rodrigo Sha (Brasil) e Kenneth Bager (Dinamarca), se uniu ao também músico e compositor João Viana para lançar, há alguns dias, “Aurora”, um álbum repleto de referências às tradições musicais brasileiras e até indianas com evidente tempero meditativo.
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A referência fica claríssima até mesmo no “sobrenome” das faixas, batizadas como “Aurora – Meditation 1”, “Bênção – Meditation 2”, “Silentium – Meditation 5”, e por aí vai. “A ideia era respirar, sentir a alma, o silêncio, a reflexão da vida… Para tentarmos absorver e reverter da melhor forma possível a situação que ainda estamos passando. A música tem o total poder de acalentar nossa alma e nosso coração. Ela cura”, diz Sha à UBC.
Se o compositor e produtor americano Keith Fullerton Whitman afirmou que “toda a música do século XXI é música ambiente”, reverberando a ideia do lendário Brian Eno – produtor e teórico musical britânico – de que canções são uma parte indissociável das nossas vidas, Sha e Viana quiseram ocupar o dia a dia pandêmico com sons. Eles se juntaram ao longo de várias semanas, no Rio, para criar as canções do álbum de maneira experimental, desenvolvendo as melodias com Handpan (um instrumento de percussão composto de dois pratos de metal unidos), clarinete, flauta e, às vezes, violão e momentos pontuais de voz.
“Foi tudo muito fluido. Nos encontrávamos no estúdio, começávamos a gravar, e mais ideias surgiam a partir da sonoridade que se construía. Mandei as três primeiras músicas para o Kenneth ouvir, por confiar muito nele e achar que têm tudo a ver com uma gravadora internacional como a dele, a Music for Dreams, que trabalha bem neste segmento instrumental contemporâneo. Ele adorou e fez a direção artística do resto do álbum”, conta Sha.
O minimalismo que virou tendência na música instrumental nestes tempos tão complexos está todo lá. Assim como as levadas rítmicas e a musicalidade brasileiras. A faixa “Baghavatar” tem um mantra vocal que se repete, provocando um estado de calma.
João Viana. Divulgação
“A música está presente em todos os rituais religiosos e sagrados desde os primórdios da humanidade. Isso define culturas e integra o ser humano com o todo, a natureza, Deus e o universo. Quem quiser se conectar com essa energia divina e poderosa de coração aberto tem muitos benefícios. Falo isso por experiência própria. A música vem de um lugar muito mágico, difícil de definir em palavras. Cantar, ouvir, imergir nela é a devoção da alma e do espírito pedindo sua união com a divindade”, define o músico carioca, que espera o momento de poder apresentar ao vivo as canções do trabalho.
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