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7 dicas de mestre para compor música
Publicado em 12/02/2019

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Marisa Monte, João Bosco, Sueli Costa, Fausto Nilo, Rosa Passos, Edino e Edu Krieger e Ana Cañas compartilham suas experiências de criação com quem está começando

Por Alessandro Soler, do Rio, e Ricardo Silva, de São Paulo 

Ter uma ideia é importante. Saber como transformá-la numa composição musical, quase que ainda mais. Porque sabemos que difícil é o caminho a trilhar no mundo da música, recolhemos sete dicas de composição com oito grandes artistas que já chegaram lá. Ana Cañas, Edino e Edu Krieger, Fausto Nilo, João Bosco, Marisa Monte, Rosa Passos e Sueli Costa comentam coisas práticas como a hora certa de transpor a ideia para o papel, quando ter ou não ter um parceiro e como enveredar a áreas e gêneros específicos. 

  1. Não tenha medo de experimentar e fazer coisas fora da caixa

    Na era das métricas, das análises de consumo dos serviços de streaming quase em tempo real, é tentador lançar mão de informações e dados acessíveis facilmente para compor segundo fórmulas já testadas e bem-sucedidas e, assim, chegar mais rápido ao sucesso e aos lucros. Mas fazer diferente, dar vazão a emoções e sentimentos autênticos, também recompensa. “Existe o público que gosta da estranheza, da vanguarda e da experimentação, e essa gente vai estar aberta ao que você criar. Para o cara que está começando, a tecnologia ajuda muito, direciona. Mas o maior desafio é, no meio de tanta informação, tanto ruído, conseguir ser ouvido. Ter o tempo e a atenção do público. Então, faça diferente”, prega Marisa Monte, dezenas de composições solo ou com parceiros como Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Nando Reis, Rodrigo Amarante e Ed Motta. “É claro que vale a pena fazer algo diferente, que não seja mainstream. O artista que acredita no seu talento, no seu trabalho, nunca deve desistir”, completa a baiana radicada em Brasília Rosa Passos. Dama do jazz, a cantora e compositora com 20 discos lançados apostou num gênero de nicho no Brasil — e que poderia desestimulá-la, dada a ausência de grandes oportunidades comerciais para artistas do estilo —, mas colheu os frutos da insistência: tem grande sucesso em países como Estados Unidos, Japão, Espanha, Suíça, Noruega e Suécia. 

  2. Teve uma ideia? Não perca tempo e coloque-a logo no papel

    “Não tem que esperar o momento ideal. Aquele que acha que amadurecer algo na cabeça vai resultar em algo melhor se engana. Vai esquecer, vai se perder. Tem que pôr logo no papel e ir trabalhando, lapidando, apurando. Eu me lembro perfeitamente da primeira vez em que ouvi uma canção de bossa nova. Eu morava com a família ainda, em Juiz de Fora (MG). A TV ficava na sala, o piano também. Eu ficava ali dedilhando algo, criando coisas... Ouvi a Silvinha Telles cantando. Eu falei para mim mesma: 'meu Deus, o que é isso?' Na hora, fui para o quarto, peguei o violão e comecei a fazer algo naquele gênero. Foi uma inspiração tremenda. Não ruminei nada, não tive dúvidas: sentei e escrevi”, brinca Sueli Costa, mais de 200 composições próprias e em parceria com nomes como Abel Dias, Cacaso, Tite de Lemos, Paulo César Pinheiro, Fausto Nilo, Ana Terra e tantos outros. “Quando eu estava casada e tinha filhos pequenos, me levantava às 3h30 da manhã, quando tinha uma ideia, e ia imediatamente compor, elaborá-la... Me sentava ao piano, dedilhava... Meu marido dizia 'me casei com uma louca que trabalha de madrugada...' Mas a inspiração não tem hora!”

  3. Saiba quando reconhecer a hora de buscar um parceiro

    O processo é, eminentemente, solitário. Mas é normal que compositores se aproximem de pessoas afins, de gente com sensibilidades compatíveis, com os mesmos gostos e visões de mundo. Então, se não consegue avançar numa criação só, se sente que falta algo, não tenha medo de pedir ajuda, de propor uma cocriação. “'É noite alta e quente/ não vou mais dormir/ pois uma canção/ insiste em surgir/ misteriosamente.../' Essa canção, 'Misteriosamente', foi composta pelo Wally Salomão, pelo Antonio Cicero e por mim”, conta o mineiro João Bosco, centenas de composições criadas só ou com parceiros, Aldir Blanc, Carlos Rennó, Chico Buarque, Belchior e o filho Francisco Bosco entre eles. “'Misteriosamente' faz parte do repertório do disco 'Zona de Fronteira'. Nós três construímos esse disco, lançado em 1990/91. Eu acho interessante esse exemplo pois, embora a canção, na maioria das vezes, seja sempre uma criação solitária, ela já nasce com um destino. É preciso ouvir a voz da canção, o que ela diz, o que ela deseja, como ela quer ser. Por isso ela é misteriosa. A canção deve ir na direção da unidade, independentemente de você estar 'sozinho' ou não. De minha parte , eu nunca me senti “sozinho”. O resto é mar... é tudo que eu não sei contar...!”

  4. Use as novas tecnologias para procurar um intérprete ou parceiro

    Edu Krieger é um compositor, instrumentista e cantor — assim mesmo, com o canto por último. Ele é o autor de grandes hits de nomes como Ana Carolina, Roberta Sá, Maria Gadu, Maria Rita, Pedro Luís e Fagner. E sabe que, muitas vezes, o compositor que não é intérprete das próprias músicas tem redobrada dificuldade de mostrar o que cria. “Mesmo não sendo um intérprete, é importante o compositor tentar usar as plataformas disponíveis na internet para mostrar seu trabalho, nem que seja através de uma gravação caseira. Isso facilita na hora de mandar a canção para algum artista ou alguma editora, pois basta enviar um link. Conhecer quem faz o mercado girar é fundamental. Saber quem está à procura de repertório, procurar esses contatos, tudo isso faz parte do trabalho diário do compositor que almeja viver de sua obra”, ensina.

  5. Use a tecnologia para aprimorar seu próprio estilo, e não copiar outros

    Grande nome da composição clássica nacional, o maestro catarinense Edino Krieger, pai de Edu, dá uma lição de como se adaptar à tecnologia na hora de compor, prestes a completar 91 anos. “A necessidade de expressão artística é inerente à condição humana, quaisquer que sejam os avanços tecnológicos. O homem das cavernas já fazia da pedra um instrumento para cravar nas rochas a sua necessidade criadora. Os avanços tecnológicos nunca coibiram a necessidade de expressão, ao contrário, sempre forneceram novos meios e novos instrumentos. Os equipamentos eletrônicos colocam à disposição do compositor de hoje recursos de produção sonora que não existiam nos séculos passados. Toda a infraestrutura da música clássica continua e continuará a existir. Orquestras, grupos de câmara, solistas, escolas e professores de música, criados ao longo de séculos, continuam ativos, e nada indica que não continuarão no futuro à disposição dos compositores. A sobrevivência da sua obra vai depender, como sempre, do interesse dos intérpretes em divulgá-la.” 

  6. Encontrou o parceiro ideal? Mantenha-o (mas sem jamais se fechar ao novo)!

    O diálogo quase automático, quase sem palavras, entre dois ou mais parceiros de criação é um momento tão sublime quanto raro. Por isso, ao encontrar aquele ou aqueles que comunga(m) com você em estilo, ideias, aspirações e alma, não deixe escapar. O grande letrista cearense Fausto Nilo tem particular sensibilidade na hora de buscar esse entendimento. “A coisa é ajudar de modo sonoramente harmonizado, encaixar as palavras na música sabendo o que o parceiro busca”, ele conta. Outro segredo é não se fechar num estilo. Usar a grande, enorme, riqueza musical brasileira a favor só contribui para a expansão dessa riqueza, num ciclo virtuoso. “É uma das facetas divinas do trabalho”, define o autor de mais de 400 canções em parceria com bambas como Fagner, Moraes Moreira, Roberto de Carvalho. “Isso tudo é mais do que eu imaginava realizar. Ainda faço letras e gravo todos os anos.”

  7. Saiba pôr o ponto final e deixar a sua obra “voar”

    Acontece muito no começo da trajetória musical — mas não só. Saber a hora de parar de “lamber a cria” e deixá-la voar, ver o mundo, é também uma arte em si. O perfeccionismo excessivo paralisa e representa uma grande amarra. Ter a segurança de saber o momento certo de dar por concluída uma criação vem tanto da experiência como da autoconfiança e, por que não?, do retorno e das críticas de pessoas próximas e em cujos gosto e sinceridade se confia. “Como virginiana, é sempre difícil dar algo por acabado. Picasso dizia que não se termina um quadro, mas se o abandona. Eu sinto que uma composição te avisa quando ela se completa. Existem alguns sinais, e o mais forte, para mim, é a própria alegria ao ouvi-la, uma certa satisfação subjetiva em reconhecer que a sua alma e as coisas que lhes são importantes estão presentes”, analisa a compositora e cantora paulistana Ana Cañas. “Melodia, letra, poesia, rimas (ou não), ideias, ritmos... São os vários aspectos que dialogam e criam um amálgama idiossincrático que lhe dizem: transbordou, nasceu, pariu, é isso. Sou acometida por momentos de inspirações casuais que me levam à criação. Então, é sempre uma aventura. Uma aventura que dá sentido à vida.”

LEIA MAIS: Na reportagem de capa da Revista UBC de fevereiro, todos os detalhes de uma forma de composição musical coletiva que ganha cada vez mais popularidade mundo afora: os acampamentos de criação


 

 



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