Streaming se consolida como a maior fonte de receitas da indústria, e vendas físicas têm quedas expressivas tanto por aqui quanto lá fora
De Londres* e Rio
A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, em inglês) divulgou seu Relatório Global de Música, com dados de 2017, que apontam para um crescimento sustentado no mercado mundial. As receitas geradas por todos os setores avaliados – vendas físicas, streaming e outras modalidades digitais, execução pública e sincronização – tiveram expansão de 8,1% em relação a 2016, totalizando US$ 17,3 bilhões. Paralelamente, a Pro-Música Brasil, entidade que representa a indústria fonográfica brasileira, divulgou também seu relatório nacional, com os mesmos critérios e metodologia de medição, e a notícia é ainda melhor: salto de 17,9%, para uma receita de US$ 295,8 milhões, que coloca o país em nono lugar no ranking global.
Além da explosão do streaming, que cobra seu protagonismo absoluto no mercado – 38,4% do total das receitas globais; 55,1% no Brasil –, a tendência mais fortemente observável é a fragmentação dos modelos de negócio. Só o streaming, por exemplo, dispõe de vários: do faturamento prioritário com publicidade, no caso da plataformas de vídeos YouTube ou do pacote gratuito do Spotify, aos pacotes premium de serviços de áudio, como Apple Music ou Deezer. Tudo somado, o mercado vai se recuperando dos anos de um encolhimento causado, principalmente, pela explosão da pirataria logo após o pico histórico, no final da década de 1990. De acordo com dados do instituto de pesquisas internacional Midia Research, voltou-se ao patamar de 2008, com grande potencial de expansão nos próximos anos.
“A subida do streaming vem sendo mesmo o fator mais positivo e determinante. Todo o setor, no caso do Brasil, cresceu bastante, 64%, em comparação com 2016. Além disso, o setor de direitos de execução pública cresceu 10% também. Tudo isso, apesar das quedas no mercado físico e dos downloads, derivou na expansão de quase 18% no nosso mercado”, comemora Paulo Rosa, presidente da Pro-Música Brasil. “Os acordos fechados com as plataformas de streaming, que agora pagam direitos autorais de execução pública, claro que ajudaram a melhorar esse cenário.”
A queda nas vendas físicas – 5,4% no mundo; espantosos 56% no Brasil – parece ser uma tendência irreversível, a ponto de Paulo prever que, muito em breve, formatos como CDs e DVDs se somem de vez aos vinis como produtor de nicho. “Se fôssemos cravar uma previsão, há dez anos, a gente ia errar redondamente na tendência. Pensava-se, então, que o download era o futuro. Virou futuro do pretérito. É sempre muito difícil indicar tendências ou fazer especulações. Mas, se olharmos friamente para os números, com base nos dados de hoje, as vendas físicas e até os downloads estão caminhando para virar nicho. Mas sempre haverá artistas que vendem mais em mídias físicas, em função dos hábitos do seu público ou outros que queiram fazer portfólio incluindo um formato não digital. A indústria, hoje, tem tamanha quantidade de modelos de negócios que todos se beneficiam, tudo vale.”
Hoje, somados, CDs, DVDs, vinis e cassetes representam apenas 5,3% do mercado nacional, contra virtualmente 100% há apenas 20 anos. Devem encolher ainda mais. A Pro-Música destaca que há 112 milhões de brasileiros usando internet, 24 milhões de conexões em banda larga, 177 milhões de smartphones e 243 milhões de linhas móveis. Mas, para além dos números, já se verifica uma consolidação do modelo do streaming para a audição do tipo de música que o brasileiro mais consome: aquela que é feita aqui mesmo no país. “Das 50 gravações mais bem colocadas (nas plataformas), 45 são de artistas brasileiros, e apenas cinco, internacionais”, Paulo explica.
Abaixo, confira números destacados pelos relatórios da IFPI e da Pro-Música.
>> Execução pública soma US$ 2,4 bilhões globalmente, ou 14% do total das receitas
>> 20,5% foi a queda na receita com downloads no mundo; no Brasil, 31%
>> Com US$ 295,8 milhões em receitas totais, Brasil é o 9º maior mercado. Os oito primeiros são: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Coreia do Sul, Canadá e Austrália. A China, em décimo, fecha o top 10 internacional.
>> 17,7% foi o crescimento do mercado latino-americano, puxado principalmente pelos 17,9% de alta no Brasil.
>> 64% foi a expansão do streaming no Brasil, totalizando receita de US$ 162,8 milhões, ou 55,1% do total
*Com informações da IFPI