Na contramão do segmento ao vivo, majors celebram os números de 2020 e projetam crescimento
Por Eduardo Lemos, de Londres
A pandemia trouxe enormes prejuízos para a indústria do entretenimento, mas outros segmentos estão passando bem por este momento. Segundo estudo anunciado pela consultoria MIDiA Research na segunda, 15, a indústria mundial de música gravada teve receita de US$ 23,1 bilhão em 2020, número que contempla desde as grandes gravadoras até selos e artistas independentes. A marca representa 7% de crescimento em comparação a 2019.
Os primeiros resultados de 2020 não foram imediatamente animadores, segundo o estudo. A recuperação mais forte veio mesmo no último trimestre do ano. Se este impulso continuar, 2021 pode gerar resultados ainda melhores.
A percepção de que 2020 não foi ruim encontra eco no mercado brasileiro. É o que afirma Paulo Junqueiro, presidente da Sony Music Brasil, em conversa com a UBC. "Foi um ano muito bom para a Sony. Ainda que não tenhamos os números oficiais, nós crescemos acima do mercado, ganhando market share. O balanço é positivo em termos de resultados", diz. "A indústria da música tem que se sentir privilegiada por não ter sofrido tanto.”
Os números positivos ganham mais força se lembrarmos que a venda física de discos caiu drasticamente, já que as lojas permaneceram fechadas no último ano. "Em 2016, a Sony licenciou a venda física a terceiros por ter previsto que a queda seria inevitável, como de fato aconteceu. Hoje, a venda física significa menos de 0,5% do mercado total. Só fabricamos produto físico em casos muito específicos. Os pontos de venda praticamente desapareceram", afirma Junqueiro.
Segundo ele, as gravadoras estão preparadas para fazer as adaptações que o mercado pedir. "As gravadoras sempre fizeram a mesma coisa – ser um dos elos de ligação entre os artistas e o público. A forma de vender música se alterou do físico para o digital e, mais concretamente, para o streaming, e as gravadoras se adaptaram.” A estratégia da Sony para 2021 é bem simples. "Vamos focar em artistas, música e time", explica.
Editoras também têm o que comemorar
Marcel Klemm assumiu o cargo de diretor geral da Warner Chappell Brasil dois dias antes de o Rio de Janeiro decretar o confinamento, em março de 2020. Neste primeiro ano à frente da editora, ele celebra um "crescimento de faturamento significativo", com músicas da Warner liderando as paradas do Spotify e das rádios em 60% das semanas.
O papel das editoras se tornou ainda mais importante em um cenário socioeconômico de incertezas como o atual, de acordo com ele. "Eu sei que está difícil para todo mundo, mas a conta não pode cair nas costas do compositor. O alicerce da nossa indústria é a canção, sem ela não há toda uma cadeia produtiva. Além disso, nosso desafio é fomentar novas oportunidades para garantir que os compositores consigam viver do retorno financeiro de suas criações.” Entre as ações mais importantes da Warner neste momento, ele cita "uma atuação muito forte da área de sincronização junto aos criativos de publicidade e aos produtores de audiovisual.”
Apesar dos bons ventos que sopram, Klemm alerta para dois problemas que podem estar mais próximos do que se imagina. O primeiro é o que ele define como "comoditização da música". "Eu vejo isso acontecendo quando hotel não quer pagar execução pública de música. Ou quando se cria uma jurisprudência permitindo candidatos a cargos políticos fazerem paródia sem consentimento do autor. A música vai perdendo seu valor", avisa.
Outro ponto de atenção, segundo Klemm, é a recessão econômica causada pela pandemia. "Daqui a pouco vamos começar a ter rádios e emissoras de TV inadimplentes. É toda uma cadeia produtiva que pode ser impactada pela situação em que o Brasil está.”
O futuro, porém, parece ser mais solar. "Conversando com artistas e contratantes do mercado, fica claro que existe uma demanda reprimida muito grande para eventos presenciais. O presencial vai voltar com muita força, fazendo com que a indústria como um todo volte a respirar um pouco", prevê.
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