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Mais um doc se soma a safra que conta a história recente da nossa música
Publicado em 25/01/2021

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“Chacrinha — Eu Vim Para Confundir, e Não Para Explicar” relembra os bastidores do mítico programa de auditório do “Velho Guerreiro”, em cujo palco se fermentou o BRock; Anitta e Emicida estão entre os muitos outros a mostrar vida e obra em filmes

Por Ricardo Silva, de São Paulo

Foto: Reprodução, TV Globo

À onda documentários que vêm ajudando a contar a história recente da música brasileira se soma mais um que promete fazer barulho. Não é sobre um músico, intérprete, compositor ou banda, mas sobre alguém que, ao estar sempre cercado deles, promovendo-os, deu visibilidade sem precedentes a movimentos como, por exemplo, o BRock.

O que difere “Chacrinha – Eu Vim Para Confundir, e Não Para Explicar” dos recentes “Anitta: Made in Honório” (lançado em série pela Netflix) e “Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem” (doc em longa-metragem, também produção da Netflix) é que o primeiro irá para os cinemas. Estreia esta semana (quinta-feira, 28) e relembra a ascensão de bandas como os Titãs e RPM, catapultadas ao estrelato no palco do mais popular programa de auditório dos anos 1980. 

“Ao trazer a anarquia para a frente das câmeras, Chacrinha valorizou o povo, mostrando o que é de fato o Brasil. Ele foi o inaugurador de uma linguagem realmente popular na TV. E sempre ligado à música. Qualquer documentário sobre a Tropicália sempre traz o programa do Chacrinha, ele era um grande tropicalista”, disse Claudio Manoel, jornalista, humorista ex-integrante do Casseta & Planeta e codiretor do documentário ao lado de Micael Langer. 

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O lado “escuro” da relação do “Velho Guerreiro" com artistas da música também vem à tona. “Ele amplificou certos hábitos não tão benignos do showbiz, como o jabá, fazendo do seu programa uma janela para isso. Ele levava atrações ao programa, mas, em troca, queria que essas atrações participassem de eventos dele”, afirmou o diretor em entrevista ao site NeoFeed. 

Tony Bellotto é um dos muitos entrevistados, que, nos seus depoimentos, contam passagens impublicáveis dos bastidores, além de momentos memoráveis da própria história e da trajetória da banda.

Cena de "Anitta: Made in Honório". Reprodução Netflix

 

Um pouco do que também pretenderam Anitta e Emicida, cujos documentários fazem sucesso na plataforma Netflix. 

A cantora e compositora se mostrou sem pudores em seis episódios de 30 minutos de duração, nos quais relata sua criação no subúrbio de Honório Gurgel, no Rio, um estupro que sofreu ainda adolescente e sua constante luta para chegar ao topo do pop brasileiro. Sem censuras, ela é vista na atração, que estreou em dezembro, controlando cada detalhe do seu dia a dia e tomando decisões de carreira constantemente. "Conversei muito com o Andrucha e o Waddington (diretores) e falei: 'Vamos mostrar a pessoa que sou, com defeitos e qualidades'", ela afirmou, dizendo que sua ideia era mostrar a verdadeira Anitta, numa espécie de documento do atual momento da sua trajetória de sucesso.

Já Emicida usou os bastidores do show “AmarElo”, que fez no Teatro Municipal de São Paulo, para resgatar a história do movimento negro no Brasil. “O documentário joga luz numa parte da história do Brasil que foi invisibilizada e a que nem os próprios brasileiros tiveram acesso”, ele disse. No filme de quase 90 minutos uma realização do Laboratório Fantasma, produtora que mantém com o irmão, Evandro Fióti, grandes figuras esquecidas ou escassamente valorizadas do movimento negro — como a antropóloga Lélia González, a atriz Ruth de Souza e o arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira — são exaltadas, e suas lutas por democracia, inclusão e igualdade, celebradas. 

O objetivo do rapper, explicitado em várias entrevistas, é tomar para si o controle da própria narrativa. E colocar o povo preto nos espaços historicamente ocupados pela minoria branca, como o Municipal, onde houve o show que serve como linha-guia da obra. “A ideia é construir um movimento dentro de um espaço físico. Quando a gente subir naquele palco, vai ser a noite que transformou a vida de muita gente”, ele antecipou em trecho mostrado no longa.

O show "AmarElo", no Municipal de São Paulo: fio condutor do documentário. Foto: Jef Delgado

 

Fora do circuito das plataformas de streamings e dos cinemas, a safra de documentários tem ainda lançamentos recentes, como “Amigo Arrigo”, dirigido por Alain Fresnot e Junior Carone, sobre um dos ícones da vanguarda paulista dos anos 1970 e 1980; e “Outros Fevereiros”, sobre Maria Bethânia e as relações entre sua obra, o samba carioca, o samba de roda do Recôncavo e o candomblé. Nos próximos meses, estreia um documentário do Natiruts, ligado ao recente projeto “América Vibra”, colaboração da banda brasiliense com Ziggy Marley, filho do lendário Bob Marley, e participação da atriz mexicana Yalitza Aparicio, estrela de “Roma”, de Alfonso Cuarón. 

E, internacionalmente, uma enxurrada de documentários dá um registro audiovisual a cenas, gêneros e artistas mil, da juveníssima cantora e compositora Billie Eilish (“The World's a Little Blurry”) à banda de metal e hardcore Rage Against The Machine (“Killing in Thy Name”), passando pelo Coldplay (“A Head Full of Dreams”) e por Whitney Houston (“Can I Be Me?” e “Whitney”). A maioria está disponível no Netflix ou em outras plataformas.

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