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Tendências 2021: festivais de música
Publicado em 07/01/2021

Aposta na vacina, manutenção das medidas de higiene, pré-marcação para posterior confirmação de edições físicas ou um mergulho radical no virtual e em novas tecnologias: veja o que os produtores de eventos de todos os portes têm pensado para este mercado no Brasil e confira uma lista de festivais presenciais já anunciados

Por Luciano Matos, de Salvador

Atualizado em 4/3/2021

Depois de um ano de paralisação sem precedentes, a perspectiva de uma vacina e de uma melhoria na contaminação fez com que vários festivais de música começassem a definir e divulgar novas datas de suas edições físicas para 2021. Quase todos eles ficando para o segundo semestre. Na primeira metade do ano, ainda sem a certeza de ter uma população imunizada, e com os recursos da Lei Aldir Blanc ou incertos ou ainda começando a gerar efeitos, vários festivais devem manter a tendência verificada no segundo semestre do ano passado: acontecer de forma virtual, em lives ou outros formatos.

Outros, como o Rock in Rio, por exemplo, confirmaram oficialmente, em 4 de março, que suas edições previstas para 2021 em Lisboa e Rio foram adiadas, respectivamente, para junho e setembro de 2022.

Para além dos adiamentos, a produtora Ana Garcia, do festival pernambucano Coquetel Molotov, é uma das que avaliam que devemos ter um começo de ano eminentemente virtual: “Os editais da Lei Aldir Blanc terão que ser realizados no primeiro semestre, e todos em formato online.” Para ela, a volta a uma certa normalidade seria apenas a partir de junho. “Já estamos vendo festivais anunciarem novas datas e line-ups para formato físico, e acho que isso é superimportante neste momento para dar uma esperança, para ter algo para torcer e acreditar.”

“Já estamos vendo festivais anunciarem novas datas e line-ups para formato físico, e acho que isso é superimportante neste momento para dar uma esperança."

Ana Garcia, produtora do Coquetel Molotov

Uma coisa é certa: uma série de medidas — distância, higiene e limpeza reforçadas entre elas — ainda não parece ter prazo para acabar. “Testar toda a equipe para o vírus, otimizar filas de entrada, bar, banheiros, provavelmente automatizar alguma parte dos serviços e tudo isso significa ter custos mais altos. Talvez, com a vacina, as mudanças sejam mais sutis, mas certamente existirão”.

Para a produtora Bina Zanetti, do festival Brasis no Paiol, vai haver várias mudanças nos eventos. “Inicialmente, no caso de edições presenciais, teremos redução de 40 a 50% da capacidade de público e protocolos de saúde rigorosos para eventos de grande porte. Penso que, no segundo semestre de 2021, os eventos voltarão a certa ‘normalidade’ referente a quantidade de público e os protocolos de saúde sejam mais leves, na esperança de que parte da população já esteja imunizada com a chegada da vacina.”

Tomás Bertoni, produtor e sócio-fundador do Festival CoMA, em Brasília, mantém os pés no chão quanto a prognósticos. Sem uma data definida para a próxima edição do evento, ele diz que a percepção sobre o que vai acontecer muda a cada semana. “A minha especulação nesse momento, que pode mudar em breve, é que se vacinarem grupos de risco e serviços essenciais até mais ou menos junho, no segundo semestre vai rolar tudo, mesmo que forçando a barra.”

"Penso que, no segundo semestre de 2021, os eventos voltarão a certa ‘normalidade’ referente a quantidade de público e os protocolos de saúde sejam mais leves."

Bina Zanetti, produtora do Brasis no Paiol

Para ele, não vai haver grandes adaptações nos festivais, caso o cenário de vacinação ocorra. "Vão ser festivais com torres de álcool gel espalhadas e com a obrigação de usar máscara, que pouquíssima gente vai usar direito? Vão ser montadas estruturas para testar todo mundo que entra no festival, além de todo mundo que vai trabalhar? Testar todos os artistas e suas equipes também?”, indaga.

Guilherme Rabelo, curador do Breve, um dos festivais que já têm data para sua edição física, acredita que não há festival sem a presença de público. Para ele, também é difícil pensar previamente em adequações. “Em se tratando de um festival de música no modelo do Breve, ou de todos os outros que acontecem no Brasil, como Rock in Rio, Lolla, Bananada, Coala etc., é muito difícil prever uma adaptação. Porque, na verdade, o festival são a música e a energia do público. Lógico que a gente está estudando quais são os formatos, quais vão ser os protocolos exigidos na época, porque também está tudo mudando muito rápido, mas acho que todos os festivais do Brasil acreditam na vacina, e é a única forma deles acontecerem.”

Jomardo Jomas, produtor do festival Mada, de Natal, acredita que o uso de máscara ainda se estenderá por mais um ano no mínimo, independentemente da vacinação. “Tudo agora será vacinação (ter as vacinas), distanciamento e proteção. Para chegarmos bem ao final deste ano, esses pontos serão fundamentais”.

Novos formatos

Um dos principais festivais do país atualmente, o Coala não realizou a edição física em 2020, mas é um dos que já programaram sua edição deste ano, com shows confirmados das cantoras Gal Costa e Maria Bethânia. O festival paulista promoveu uma versão on-line no ano passado, transmitida de um sítio afastado de São Paulo. Batizado como Coala VRTL, recebeu mais de 600 mil espectadores numa transmissão que acontecia simultaneamente nos canais das atrações e no YouTube do festival e da TNT. A programação recebeu nomes como Gilberto Gil, Mariana Aydar e Novos Baianos e, para muitos, elevou o padrão de transmissões de eventos ao vivo no Brasil.

Essa aposta em edições virtuais vai continuar em 2021 entre os festivais, inicialmente de modo exclusivo, mas, com a volta a uma certa normalidade, as transmissões devem ser incorporadas às edições físicas dos festivais. É como pensa Ana Garcia. Segundo ela, depois de os festivais terem passado pela experiência de fazer suas edições online, muitos buscarão dar continuidade a essas entregas online e seguirão em um formato híbrido: “Experiências menores e exclusivas passam a fazer mais sentido para festivais e eventos de menor porte.”

"Se todo mundo transmitir tudo o tempo inteiro, vai haver uma banalização."

Pedro Seiler, produtor e sócio do Queremos!

Para Pedro Seiler, produtor e sócio fundador do Queremos!, do Rio, o formato virtual veio mesmo para ficar. Ele acredita, porém, que ainda haverá adequações e ajustes ao formato. “Cada festival vai ter que entender qual a maneira de utilizar. Vai ser como conteúdo extra? Aumentando a abrangência do festival?”, cogita. “Se todo mundo transmitir tudo o tempo inteiro, vai haver uma banalização. Os próprios artistas vão começar a se proteger um pouco dentro dos festivais se todo mundo quiser transmitir. Acho que é uma coisa ainda a ser estudada.”

Para Bertoni, do CoMA, os novos formatos que ganharam visibilidade em outros países, com presença de público em espaços físicos, mas de forma adaptada à nova realidade, não devem permanecer. “As opções de shows com mesas e o público em cercadinhos, drive in etc., todo mundo já sabe que existem, mas descaracterizam totalmente o que nossos festivais fazem e propõem. São outro evento, e acho que muita gente, inclusive o CoMA, vai acabar optando por não fazer.”

3D e games

Há uma nova possibilidade que vem se configurando e deve ganhar espaço, mesclando diversos formatos e incorporando outras linguagens, como game e 3D. O festival No Ar Coquetel Molotov, de Recife, é um exemplo de festival que vai apostar nessas tecnologias. De 11 a 23 de janeiro, o evento vai realizar uma edição em formato “imersivo e sensorial híbrido”. A proposta é unir música e arte em um formato online, com ações virtuais e em 3D.

“O mundo 3D será um espaço para lançamentos exclusivos e de conteúdo das marcas que estão patrocinando o festival. Acho que ele tornará a experiência mais divertida e imersiva”, explica Ana Garcia. Para a produtora, ainda há um longo caminho para evolução nesse tipo de tecnologia no Brasil. “Poucos brasileiros tem óculos VR, por exemplo.” Ela lembra que outros festivais brasileiros já criaram experiências do tipo, como a Feira da Música, de Fortaleza. “Eu achei fantástico assistir ao show dentro de um jogo, e tem link total com a nova geração. Os festivais precisam inovar e se manter frescos, e esse com certeza é um caminho importante.”

A Feira da Música, realizada no último mês de novembro, foi de fato umas das experiências mais exitosas no uso de games por um festival no Brasil. O evento foi ousado não apenas no formato, mas também por apostar no uso de um software próprio desenvolvido em um curto período de tempo e totalmente adaptado às suas necessidades. Construída e idealizada de forma coletiva numa parceira da Feira com dois outros festivais, Afete-se e Convida, e do Ninja Hacker Space e S.O.M, a plataforma OASI levou para o modo virtual a diversidade desses eventos. No caso da Feira, todo o ambiente de shows, mostras de videoclipes, rodas de negócios e feira de expositores presentes no formato físico ganharam uma conversão para o formato de game. Além da realização da Zona de Propulsão, uma maratona de inovação seguindo a ética hacker e focada no desenvolvimento de soluções e ferramentas para artistas, produtores e público em geral.

Tomás Berton, do CoMA, afirma que tem estudado as possibilidades desses formatos e já experimentou algumas delas em seu festival. Ele, no entanto, ainda vê com reserva a aplicação dessa lógica de games nos festivais brasileiros. “O público fiel de games é muito diferente do público de festivais. Claro que tem uma interseção, mas são idades diferentes e, principalmente, mentalidades completamente diferentes. Vai depender de como essa linguagem é usada e com qual objetivo.”

Festivais já anunciados em 2021

No Ar Coquetel Molotov 2021 (apenas virtual)
11 a 23 de janeiro
coquetelmolotov.com.br
Atrações confirmadas: Ava Rocha e Boogarins, Lia de Itamaracá, Tuyo, Jup do Bairro, Derek, Alessandra Leão, Amaro Freitas, Test, Perera Elsewhere, Thelmo Cristovam, Miãm, Luiz Lins, Bella Kahun, Bell Puã, Avoada, Thelmo Cristovam, Hrönir, Cássio Sales, Ciel Santos, Siba Carvalho, Guma, Mooniz e HoodBob

Nômade Festival
24 de abril
Memorial da América Latina - São Paulo/ SP
Atrações confirmadas: Caetano Veloso, Elza Soares

Breve Festival
7 de agosto
Mineirão – Belo Horizonte/ MG
Atrações confirmadas: O Grande Encontro – Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, Ney Matogrosso, Orishas, Racionais MC’s, Pitty, Djonga, Céu + Tropkillaz, Heavy Baile, ÀttoxxÁ, Luiza Lian, Tuyo, Josyara, entre outros.

Lollapalooza
10, 11 e 12 de setembro
Auditório de Interlagos – São Paulo/ SP

Coala Festival
11 e 12 de Setembro
Memorial da América Latina - São Paulo/ SP
Atrações confirmadas: Gal Costa e Maria Bethânia

Festival #MADA22
Dias 15 e 16 de outubro de 2021
Arena das Dunas – Natal/ RN
Atrações confirmadas: Emicida, Letrux, Terno Rei, Afrocidade, DJonga e Gloria Groove

Festival Rock the Mountain
13 e 14 de Novembro
Itaipava - Petrópolis/ RJ
Atrações confirmadas: Gal Costa, Caetano Veloso, Alceu Valença, Black Alien, BaianaSystem, Djonga, Criolo, Marina Lima, Karol Conká, MC Tha, Raimundos, Luedji Luna, Malía, Mateus Carrilho, Jaloo, Budah, Ana Frango Elétrico, Mulú, Valuá, Carlos do Complexo, Potyguara Bardo, GOP TUN, Fatnotronic e Selvagem,


 

 



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