Série da UBC sobre como usar as redes e o streaming a seu favor apresenta o aplicativo que une música e videogames, um casamento que tende a trazer lucros exponenciais para a indústria fonográfica nos próximos anos
Por Fabiane Pereira, do Rio
A Twitch, fundada em 2011, é uma comunidade global que se reúne diariamente para criar entretenimento multiplayer ao vivo. Uma das maiores plataformas de streaming de games do mundo, o serviço, disponível em versões web e em aplicativos móveis dos sistemas Android e iOS, conta com muitas lives e canais de jogadores famosos com vídeos ao vivo. Tudo isso poderia ser só uma curiosidade para você, que trabalha com música, não fosse uma tendência crescente — e sem volta: a do casamento entre videogames e música.
Em maio, aqui no site da UBC, contamos o interessante caso do rapper americano Travis Scott, que lançou singles durante uma série de lives no videojogo Fortnite, outra plataforma a reunir uma imensa comunidade em rede. Se o megaevento global de Lady Gaga “One World Together at Home”, logo no início da pandemia, teve uma audiência de 20,7 milhões de espectadores, segundo a Nielsen, os shows de Travis Scott passaram de 28 milhões.
No Brasil, Tom Gil, empresário do Sepultura — a banda nacional com maior visibilidade no mundo atualmente — é outro que já entendeu há bastante tempo o potencial de crescimento do segmento. O grupo de metal se juntou a tantos outros artistas que apostam na aproximação a essa universo (no caso do Sepultura, através de parcerias com plataformas como a Microsoft).
De olho na sinergia entre música e games, a Twitch lançou ano passado nos Estados Unidos (e, mais recentemente, no Brasil) sua seção musical, na qual foram convidados a criar perfis ali, misturados aos dos milhões de gamers, algumas estrelas da música. No nosso caso, foram 11 delas (apenas duas mulheres): Criolo, Pitty, BaianaSystem, Marcelo D2, Kondzilla, Filipe Ret, Jaloo, Tropkillaz, Só Track Boa, Laboratório Fantasma e Mel. O investimento na atração desse time de craques não foi divulgado, mas certamente não foi baixo. A ideia é que, além de falar de lançar conteúdos sobre música (em lives, clipes ao vivo, pocket shows para o lançamentos de singles). A música, pouco a pouco, vai tomando conta da plataforma.
Siga o exemplo deles – Essa comunidade que cresce rapidamente já tem mais de 140 milhões de usuários mensais, que consomem conteúdos variados, ao vivo e de forma interconectada. Lives e lançamentos ali, como mostrou o exemplo do Fortnite, são sucesso de audiência garantida.
Busque o status de afiliado – Quando você tiver maior relevância ali, e seus conteúdos atenderem aos critérios da Twitch, você poderá se tornar um afiliado. Assim, conseguirá monetizar na rede social. Como explica Wladimir Winter, diretor de parcerias e conteúdo da plataforma no Brasil, a monetização dos afiliados se dá através de inscrições pagas no perfil, bits (contribuições) que os espectadores fazem e uma cota de participação nos anúncios, similar à que ocorre no YouTube, por exemplo. Atualmente, os critérios para conseguir esse status são: “pelo menos 500 minutos totais de transmissão nos últimos 30 dias; pelo menos sete dias de transmissão exclusivos nos últimos 30 dias; uma média de três espectadores simultâneos ou mais ao longo de 30 dias; pelo menos 50 seguidores”.
Seja desprendido – Segundo Winter, saber interagir com pessoas em tempo real é uma vantagem: “O maior diferencial da Twitch é a nossa comunidade, e tudo se resume a ela. O streamer tem que saber lidar com uma plateia ao vivo, porque, quando você faz um streaming na Twitch, (atinge) milhões de pessoas reais que estão em busca de conteúdo a qualquer momento do dia.” Cris Falcão, da Ingrooves Music Group, promoveu recentemente na Twitch o “Ingrooves Brazil Day”, ação que lançou cinco artistas independentes para a audiência global da plataforma. Ela faz eco com Winter: “O artista precisa entender a lógica da Twitch para conseguir atrair a audiência dos fãs. Por ser uma plataforma que trabalha com conteúdo ao vivo, e por um prazo contínuo, o artista precisa saber interagir. Ele pode mostrar seu trabalho, contar histórias de bastidores, cozinhar, falar sobre uma série, um filme, suas preferências. Isso vai aproximá-lo da sua rede de fãs e gerar engajamento”, explica.
Um caso interessante, recentemente divulgado pela revista "Forbes", dá uma ideia do que ele fala. O músico Matt Heafy, vocalista da banda americana de heavy metal Trivium, bomba na Twitch com vídeos supersimples nos quais aparece ensaiando e criando música ao vivo — ou, tão-somente, tocando guitarra. Ele, que também é jogador e aparece em sessões ao vivo jogando videogames online, disse que chegou a pensar em deixar a Twitch para poder praticar seu instrumento, mas, estimulado por outros membros da banda, decidiu fazer tudo de que gosta ao mesmo tempo. Deu tão certo que seu canal tem 3,5 milhões de visualizações, e ele diz ganhar mais dinheiro em casa, pela Twitch (onde tem status de afiliado e, portanto, monetiza com anúncios e recebe doações dos fãs), do que na banda.
Aposte em conteúdos diferentes – Como o YouTube do início, a Twitch ainda é uma espécie de canal de TV particular de cada usuário, no qual ele tem a chance de mostrar o melhor de si, seu lado mais criativo. Crie apresentações ao vivo que agreguem algo à imensa geleia geral de produção em redes sociais, com milhões de vídeos publicados todos os dias. Exemplos? Uma sessão de karaokê que busque a participação dos jogadores/usuários ou noites temáticas dedicadas a filmes, games ou músicas de uma determinada década. Com maiores audiência e engajamento, você poderá conseguir o status de afiliado — e monetizar.
Com uma equipe de parcerias e conteúdos trabalhando junto com Winter, a Twitch diz buscar novos caminhos para os artistas independentes da música. O segmento musical deve crescer, e muito, ali nos próximos meses. Ou seja, quem já estiver dentro terá mais chances de participar da provável explosão. “Dirijo uma equipe que está sempre ligada em tudo o que está rolando no mercado”, ele diz, resumindo o perfil ideal de quem prospera ali: “O principal ponto é ter conteúdo para mostrar à comunidade. Lives tradicionais não são a única opção, então é importante que o criador tenha compromisso com o conteúdo.”
Direitos autorais
Propriedade da Amazon, a Twitch ainda não paga royalties pelo uso das canções. As grandes gravadoras nos Estados Unidos planejam mover uma ação coletiva cobrando os direitos fonomecânicos. No que toca à execução pública no Brasil, também não há pagamento ainda. O Ecad está em negociações preliminares com a Twitch e monitorando o avanço da plataforma no Brasil.
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