Plataformas chegam ao mercado com mais recursos e qualidade nas transmissões para manter público online na 'nova normalidade'
Por Fabiane Pereira, do Rio
Duramente atingido, mas acostumado a crises e adaptações, o mercado musical precisou inventar um novo jeito de existir durante a pandemia para sobreviver. E continua a fazê-lo continuamente desde então. Se as lives foram a grande sensação nos primeiros tempos do confinamento, os shows ao vivo transmitidos por novas plataformas, com mais recursos e sofisticação na transmissão, parecem pouco a pouco se configurar como uma nova — e duradoura — tendência.
Para Franklin Costa, sócio e co-fundador do Projeto Pulso, iniciativa de pesquisa sobre a cultura dos festivais, a profusão de lives do início foi uma verdadeira “febre do ouro”: “Todo mundo quis chegar lá primeiro. Também rolou um efeito manada, potencializado pelas lives de artistas mais populares. Porém, com o passar do tempo, novas opções de streaming foram surgindo, algumas inclusive com propostas mais de nicho, como Twitch (onde muitos artistas de música eletrônica vêm se apresentando). Somado a isso, vieram os drive-ins, que ocuparam recentemente o lugar das lives como 'a febre' do momento. Esses fatores contribuem para uma queda natural do interesse pelo formato, mas não significa que as lives vão acabar. Elas evoluem. É mais um sinal de amadurecimento”, analisa Franklin.
Uma das iniciativas que mostram essa evolução das lives para formatos e apresentações mais bem-estruturados é a Casa:Link, que não tem endereço físico, mas está a um clique de distância de todo o mundo. É um centro cultural virtual que abre suas janelas e abas para propostas artísticas em tempos de pandemia. À frente do projeto está um pool de agências de música (Agogô Cultural, Difusa Fronteira, ejàokun produções, Erva Doce Produções e Let's GIG). Ricardo Rodrigues, um dos sócios da Let's GIG, explica. “Somos empresários e vivemos principalmente de música ao vivo, temos vasta experiência de mercado e trabalhamos com artistas como Letrux, Marina Lima Francisco el Hombre, Liniker e os Caramelows, Luedji Luna, Bixiga 70, Xenia França, entre outros. Como parece que a 'normalidade' vai demorar a voltar, criamos esse espaço que propõe para o público shows virtuais, encontros artísticos, bate-papo, oficinas, apresentações circenses e teatrais, lançamentos de discos e muito mais”, detalha.
Para o mês de sua inauguração a Casa:Link promove a “Não Tem CEP. Tem Link”, noite destinada aos encontros de novos e consagrados nomes da música brasileira. Aos sábados, três bandas ou projetos solistas vão se unir num palco hiperlink em apresentações de até 40 minutos com boa qualidade de áudio e vídeo. Em paralelo, o público ficará conectado no formato videoconferência. “Como em toda casa de show, não faltarão neste encontro DJs, VJs hostess etc.”, enumera Ricardo.
Outra opção que pretende inovar no mercado do entretenimento on-line é a ShowIn, uma plataforma de apresentações ao vivo, com venda de ingressos, que vai remunerar artistas e compositores. O cantor, compositor e empresário Orlando Moraes está à frente dessa iniciativa ao lado de seu sócio, o também empresário Dio Trotta. “Há mais ou menos cinco meses, o Dio me convidou para ser seu parceiro nessa empreitada. E, ao ouvi-lo falar, concordei que este seria um novo caminho para a música porque, de certa forma, essa nova plataforma permite que inúmeras pessoas possam trabalhar. Um dos pontos fundamentais nesse processo é que o artista vai trabalhar com visibilidade”, diz.
A receita virá da venda de ingressos, que terá preços variados. “Além disso, se o artista trouxer algum patrocínio para sua live, ele ficará com 100% dele”, pontua Orlando: “Eu acho que o diferencial da nossa plataforma é que ela será muito democrática. Ela não é apenas para os grandes artistas, mas para todos que queiram comunicar e divulgar seus projetos e trabalhos. Eu, como artista, sei da importância da visibilidade.”
Ainda sem data oficial para o lançamento, a ShowIn está funcionando no esquema de soft opening. “Estamos, Trotta, uma equipe de curadores convidados e eu, trabalhando todos os dias há cinco meses. A programação das primeiras semanas de lançamento ainda não está fechada porque a plataforma é muito grande. Estamos na fase de ajustes finais para estrear com tudo organizado”, conta o cantor que, a partir de setembro, também estará na programação da plataforma com uma live para divulgar seu mais recente álbum, cujo lançamento foi adiado por causa da pandemia.
De lives a shows
A Stageit, com sede nos Estados Unidos, uma das primeiras a crescer notavelmente (de 25 para 200 shows semanais logo no início da pandemia), também passa a oferecer mais recursos tecnológicos e formas de monetizar. A brasileira Netshow.me também conquistou seu espaço no mercado de transmissões, além do Sound Club, que conta com uma série de ferramentas.
Evan Lowenstein, fundador e diretor-executivo da Stageit, projetava à UBC, em abril, um crescimento enorme do segmento nos próximos meses. “Adoraríamos receber artistas brasileiros em nossa plataforma. Somos totalmente licenciados com direitos de autor, e o artista pode executar legalmente uma música que não é dele”, afirmou Lowenstein. A plataforma foi premiada na maior feira de música do mundo, o Midem, em 2013, na categoria “Direct To Consumer Sales & Content Monetisation”.