Conheça iniciativas de artistas e instituições que têm dado seu grão de ajuda para beneficiar centenas de profissionais da música em vulnerabilidade financeira
Por Andrea Menezes, de Brasília
É na tragédia que as pessoas se unem. O irônico, desta vez, é que foi preciso que uma situação de calamidade mundial nos separasse fisicamente para nos aproximar mais. Conforme se conhecem os efeitos catastróficos da pandemia sobre a economia e a renda de milhões de trabalhadores, mais e mais pessoas têm mostrado sua solidariedade engajando-se em campanhas beneficentes e ações destinadas a ajudar quem se encontra em risco de exclusão econômica. É o caso de anônimos e famosos que têm contribuído para o fundo Juntos Pela Música, da UBC. De grão em grão, eles vêm colaborando para que a iniciativa já alcançasse quase R$ 1,3 milhões até agora, garantindo uma renda mínima emergencial a mais de 680 profissionais do setor musical em vulnerabilidade financeira.
Alceu Valença, por exemplo, se engajou de uma forma muito particular e ativa. Ele vem mencionando o #juntospelamúsica em suas lives (como na foto acima), divulgando a iniciativa e pedindo doações. Como se sabe, a cada R$ 1 recebido, o Spotify, parceiro da UBC no fundo, entra com valor equivalente, até o limite do seu programa global de ajudas Covid-19 Music Relief. “É obrigação de todo mundo ajudar, se envolver. Um monte de gente trabalha nos bastidores da música e precisa dessa força. Ninguém pode se omitir”, disse o pernambucano. Só na primeira das transmissões, foram arrecadados R$ 43 mil em doações, que, dobradas pelo Spotify, chegaram a R$ 86 mil, o suficiente para ajudar 53 pessoas em dificuldade com quatro pagamentos mensais de R$ 400. “Essas lives são uma maneira de estar perto das pessoas, de passar uma mensagem de esperança. Tenho certeza de que vamos superar este momento muito em breve.”
Ele também adicionou ao seu perfil no Spotify um botão de doação que permite ao usuário da plataforma de streaming contribuir diretamente com o Juntos Pela Música. Mesma iniciativa tiveram, de Belo Horizonte, o compositor Geraldo Vianna e, do Rio, o cantor e compositor Rodrigo Lampreia, entre muitos outros. Eles se juntam a um time que tem pensado em várias maneiras diferentes de contribuir com quem necessita.
Mauricio Cirio: "Não poderia abordar esse assunto (luto) sem fazer a minha contribuição para a sociedade"
“O meu novo EP terá 100% dos direitos autorais doados para iniciativas de saúde”, contou à UBC o cantor e compositor gaúcho Mauricio Cirio. “Internação” foi concebido para homenagear a mãe do artista, que morreu em 2016. “Por carregarem uma grande carga real de emoção, as músicas são atemporais e geram fácil identificação, pois abordam assuntos comuns a todo mundo, como a aceitação da morte, a dor do luto, a busca por uma religião nos momentos finais da vida e a importância da doação de órgãos”, disse o artista, que vê uma mobilização coletiva especial neste momento. “Não poderia abordar esse assunto sem fazer a minha contribuição pela sociedade, ajudando de um jeito prático. Além dos direitos autorais, enquanto eu estiver vivo, e espero que depois também, tudo o que envolver esse projeto terá como fim a doação. É o que a minha mãe gostaria que fosse feito.”
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Outra gaúcha, Adriana Calcanhotto, fez o mesmo: cada uma das nove canções do seu mais recente lançamento, o álbum “Só”, integralmente composto, produzido e gravado durante a quarentena, terá os direitos autorais revertidos para um projeto beneficente. A faixa “Corre o Munda”, linda homenagem a Coimbra, onde ela leciona na universidade homônima, tem seus rendimentos dedicados ao Juntos Pela Música. Ela contou que a ideia do disco-contribuição surgiu ao observar a situação dos músicos e técnicos com os quais trabalha. A categoria, ela diz, é a mais invisível e prejudicada pela paralisação da atividade. “Uma preocupação direta com a minha equipe, porque as pessoas trabalham, têm filhos, compromissos. Então, quis gravar uma faixa e dedicar os ganhos com direitos autorais à minha equipe. Depois, pensei: por que não fazer o disco inteiro de ajuda?”
Adriana Calcanhotto é entrevistada por Sérgio Martins durante o Festival Juntos Pela Música, da UBC
O envolvimento de Adriana não parou por aí. Ela foi uma das participantes do festival Juntos Pela Música, uma megalive de 24 horas recém-realizada pela UBC, no qual voltou a dar visibilidade ao fundo e à necessidade de doar. O mesmo fizeram vários outros artistas na ocasião, como Maria Rita, Fernanda Takai, Luiz Carlos Sá, Zé Ricardo, Sandra de Sá, Rogê, Pierre Aderne, Xenia França, Marcelo Falcão e muitos mais (confira a lista completa aqui). Em outras lives recentes, artistas como Gilberto Gil, Majur, Erasmo Carlos, Wilson Simoninha, Hamilton de Holanda e Mestrinho também analisaram o difícil panorama atual do setor musical e cultural e pediram doações para o #juntospelamúsica.
No meio acadêmico, também surgiram ações de ajuda. Como noticiamos na última sexta-feira, o Programa Música & Negócios, realizado há 8 anos na PUC-Rio, ganhou versão no modelo de ensino a distância (EAD) e, através de uma parceria com a UBC, oferece desconto de 70% e doação de parte da matrícula para o Fundo Juntos Pela Música. E um workshop ministrado pela Musiclan estabeleceu uma doação mínima de R$ 50 ao fundo no ato da matrícula, efetivada só depois do envio do comprovante pelo aluno. Durante a oficina (musiclan.org/workshop), o especialista Cláudio Macedo abordou temas variados sobre o mercado musical, com dicas sobre como gerenciar uma carreira artística em tempos tão complicados.
Festivais de música, com o MADA, do Rio Grande do Norte, e feiras como a SIM-São Paulo também entraram na corrente do bem em torno do fundo e têm divulgado os canais de doações (através da plataforma Benfeitoria), bem como as regras para solicitar a ajuda. O mesmo ocorreu com o site Catraca Livre, que pediu doações para a ação da UBC e do Spotify. E até mesmo a Embaixada do Brasil no Chile usou seu perfil no Twitter para divulgar uma das lives de Alceu, mencionando expressamente o Juntos Pela Música e o engajamento do artista na ação.
Cauê durante uma transmissão no seu canal do YouTube, dedicado a dicas para compositores como ele: detalhes sobre o fundo
Quem igualmente se envolveu na divulgação, com detalhes no seu canal no YouTube, foi o associado Cauê Beltrame, cantor e compositor que mantém em suas redes um perfil muito útil de ajuda e orientação a outros compositores e músicos como ele: “Acho que se a galera puder compartilhar (a informação sobre o fundo) será bem legal.” Ele chegou a responder a questionamentos no seu canal sobre as regras de solicitação da ajuda, como ser associado da UBC há pelo menos um ano e ter recebido entre R$ 800 e R$ 12 mil de rendimentos em 2019. “Isso é para poder beneficiar uma parte dos compositores que já estão há mais tempo se dedicando profissionalmente à composição e, por isso, tinham retornos financeiros constantes”, explicou.
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