Marcelo Castello Branco, presidente do Conselho de Administração da entidade global e diretor-executivo da UBC, assina um dos textos do extenso documento, que traz iniciativas para ajudar os criadores e aborda outros temas de interesse da indústria, como o 'buy-out'
Do Rio
A Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac) divulgou seu Relatório Anual 2020, um documento de mais de 30 páginas elencando iniciativas do organismo que reúne 232 associações de gestão coletiva de direitos autorais em 120 países e territórios. O impacto da Covid-19 sobre as indústrias culturais e a economia como um todo ganha, claro, um grande destaque no material. A carta aberta enviada pelo presidente da Cisac, Jean-Michel Jarre, a representantes de governos do mundo todo pedindo medidas efetivas de ajuda aos criadores, um site criado pela entidade para fornecer informação útil sobre a epidemia e detalhes da ação ResiliArt, uma série de debates sobre a retomada, estão no documento.
Como já havíamos publicado em novembro do ano passado, quando saíram os dados (referentes a 2018) do Relatório Global de Arrecadação da entidade, a arrecadação de todos os repertórios da Cisac (música, audiovisual, literatura, arte dramática e artes visuais) havia alcançado € 9,65 bilhões, ou algo como R$ 57,4 bilhões no câmbio desta segunda-feira (25). A próxima edição desse documento, a ser lançada no segundo semestre, deverá trazer bons números outra vez, refletindo o resultado de 2019. Mas o mesmo não ocorrerá, certamente, com 2020. A verdadeira dimensão da paralisia dos eventos e shows e da economia como um todo ainda está por calcular.
Por isso, nomes como Jarre, Gadi Oron (diretor-geral da Cisac) e Marcelo Castello Branco, presidente do Conselho de Administração da entidade e diretor-executivo da UBC, fazem chamamentos por reflexão, saídas criativas e apoio aos artistas. Pedem que os governos reforcem ações de estímulo à retomada da cultura e um maior envolvimento do setor digital — plataformas e outros players — no sentido de promover uma distribuição mais equitativa das riquezas produzidas, amparando os criadores, elo fundamental da cadeia produtiva de arte e cultura.
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Confira o texto do nosso diretor-executivo no Relatório:
Devemos estar prontos para o que virá a seguir
Por Marcelo Castello Branco
Criadores são líderes, não seguidores. Mais que isso: agora são empreendedores, abrindo seu próprio caminho e seus próprios negócios.
Os criadores querem que sua voz seja ouvida, em alto e bom som. Querem ser valorizados pelos governos e apoiados por leis que protejam seus direitos. Nada nos faz pensar mais nisso do que a terrível crise em que ora nos encontramos, com os criadores lutando por sua sobrevivência ao redor do planeta.
Os criadores querem saber o que virá a seguir. É disso que sempre se tratou esse negócio. Todos sabemos o quão poderosa e transformadora vem sendo a tecnologia neste mundo novo e perturbador. E quão fundamental é nossa disposição para adotá-la e adaptar-nos ao futuro.
Os criadores querem ajuda para solucionar seus problemas. As sociedades que os servem em toda parte enfrentam desafios diários enormes, além de adversidades locais, ao mesmo tempo em que procuram novas formas de se reinventar, mantendo-se relevantes e vivas.
A missão da Cisac é atender às necessidades fundamentais de seus membros e criadores. É disso que trata este relatório, cuja leitura eu recomendo.
Um dos desafios de pertencer a uma rede realmente global é tentar manter as coisas simples, facilmente compreensíveis, facilitar os processos em larga escala e estabelecer um fluxo de comunicação direto e objetivo. Esta tem sido uma das principais prioridades da Cisac neste tempos de tantas demandas.
No ecossistema do entretenimento, no qual todos coexistimos, os criadores já não estão no banco de trás, e as OGCs (organizações de gestão coletiva) já não estão numa posição de retaguarda. A Cisac tem um papel vital a desempenhar, do qual dão testemunho as páginas deste relatório.
Outros temas vitais para o futuro da nossa indústria
Além dos impactos da Covid-19, outro tema abordado no documento diz respeito à disseminada prática do buy-out de canções de trilha sonora por parte de grandes produtores de audiovisual globais, como Netflix e Amazon. Como mostra a reportagem de capa da Revista UBC neste mês de maio, trata-se de um problema crescente e que afeta milhares de compositores, obrigados a assinar contratos leoninos em que cedem seus direitos futuros aos produtores de filmes e séries, sob o risco de não conseguir trabalho.
A Cisac, em parceria com a organização sediada nos Estados Unidos Your Music, Your Future, lançou uma ação para conscientizar os criadores sobre o perigo do buy-out, além de exortar legisladores de vários países a criarem mecanismos de proteção aos direitos autorais nesses casos, já existentes em nações como Espanha, Itália e Uruguai.
LEIA MAIS: Reveja a edição completa da Revista UBC que traz na capa a reportagem sobre o 'buy-out'
Por fim, iniciativas para promover a igualdade de gênero na administração de OGCs, novas medidas para renovar o código ISWC, de identificação global de obras musicais, e os registros de importante encontros promovidos pela Cisac com criadores, legisladores e players do mercado em diversos países sobre temas de interesse da criação artística ganharam as páginas do documento. Não deixe de ler.
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