Vitória dos criadores de música é momentânea; deputados dizem que isenções a quartos de hotéis e camarotes de navios — além de diversos outros casos antes não previstos — devem entrar em texto de nova MP, que, se aprovado, trará prejuízos multimilionários a titulares
Do Rio
Atualizada em 29/4/2020, às 8h22
A MP 907/2019, editada pelo governo de Jair Bolsonaro no fim do ano passado para estimular o setor turístico — e que, em seu texto original, livrava de pagamento de direitos de execução pública quartos de hotéis e camarotes de navios pelas músicas neles tocadas —, foi aprovada em segunda votação no Senado, nesta terça (28), sem qualquer menção a direitos autorais. Ante a enorme polêmica derivada dos prejuízos estimados em R$ 110 milhões anuais aos autores, a Câmara já havia modificado o texto em votação na segunda-feira (27), eliminando a parte das isenções. Uma tentativa do senador Esperidião Amin (Progressistas-SC) de voltar a garfar os ganhos dos criadores musicais não prosperou.
A vitória dos titulares, no entanto, é momentânea. É dada como certa a inclusão não só das isenções originais, mas de várias outras, no texto de outro texto recém-publicado por Bolsonaro, a MP 948/20, que trata do cancelamento e da renegociação de reservas e eventos no setor do turismo.
Fica claro, portanto, que segue a submissão dos temas culturais aos do turismo dentro do Ministério do Turismo. A base da inclusão das isenções na MP 948, editada no último dia 8 de abril e que tem um prazo legal de até 120 dias para ser referendada ou derrubada no Congresso, é a necessidade de estimular o setor turístico para mitigar os efeitos da pandemia de Covid-19, em detrimento do setor de cultura e arte.
Uma minuta que circulava na última semana no Senado e na Câmara ia muito além do turismo e estendia a isenção a uma série de outros estabelecimentos e usuários, como clínicas e hospitais públicos, rádios comunitárias, rádios e TVs mantidos pelos órgãos dos poderes Legislativo e Judiciário e cultos e eventos religiosos sem fins lucrativos. Teme-se que o lobby dos proprietários de licenças de rádios e TVs e líderes de igrejas, numeroso entre os deputados e senadores, atue para incluir essas exonerações no texto da MP 948.
O texto da minuta, apócrifo, previa uma série de outras intervenções na gestão coletiva. Sociedades de autores com dívidas federais no Cadin, por exemplo, seriam impedidas de seguir cobrando direitos autorais — e, consequentemente, também de distribuir valores aos seus associados.
Outras das mudanças que constavam do documento eram a vedação da cobrança de direitos autorais em eventos públicos e privados em favor de pessoas que não atuassem como intérpretes. E, numa clara tentativa de diminuir a força do Ecad, uma entidade privada habilitada pela lei 9.610/1998 para a gestão coletiva de direitos autorais no Brasil, previam-se interferências nos critérios de proporcionalidade da cobrança em eventos e shows. Pela proposta que circulava na Câmara, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição já não poderia determinar o valor a ser pago por produtores de eventos e shows com base em percentual sobre bilheteria. Em vez disso, um valor fixo seria estabelecido, correspondendo a 5% do cachê do artista contratado.
Ecad, sociedades e autores de todo o Brasil continuam mobilizados combater qualquer tentativa de impor prejuízos aos criadores de música, elo fundamental da cadeia produtiva do setor. A campanha Diga Não à MP 907 poderá ser substituída por outra, que alerte para a injustiça da possível inclusão de tantas isenções de direitos de execução pública no bojo da MP 948.
Nas últimas semanas, muitos autores e titulares têm entrado em contato com os líderes dos partidos na Câmara para argumentar contra uma isenção indiscriminada de direitos autorais que prejudica quem vive de música. Abaixo, deixamos uma lista com os nomes e os contatos públicos de todos os líderes de partidos na Câmara, para que você também os procure e exponha seus argumentos contra o castigo à cadeia produtiva da cultura.
Bloco PL, PP, PSD, MDB, DEM, SOLIDARIEDADE, PTB, PROS, AVANTE - Bloco Parlamentar PL, PP, PSD, MDB, DEM, SOLIDARIEDADE, PTB, PROS, AVANTE
Líder: Arthur Lira
PT - Partido dos Trabalhadores
Líder: Enio Verri
PSL - Partido Social Liberal
Líder: Joice Hasselmann
PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira
Líder: Carlos Sampaio
REPUBLICANOS - Republicanos
Líder: Jhonatan de Jesus
PDT - Partido Democrático Trabalhista
Líder: Wolney Queiroz
PODE - Podemos
Líder: Léo Moraes
PSOL - Partido Socialismo e Liberdade
Líder: Fernanda Melchionna
PSC - Partido Social Cristão
Líder: André Ferreira
CIDADANIA - Cidadania
Líder: Arnaldo Jardim
PCdoB - Partido Comunista do Brasil
Líder: Perpétua Almeida
NOVO - Partido Novo
Líder: Paulo Ganime
PATRIOTA - Patriota
Líder: Fred Costa
PV - Partido Verde
Líder: Enrico Misasi
Governo - Liderança do Governo
Líder: Vitor Hugo
Maioria - Maioria
Líder: Aguinaldo Ribeiro
Oposição - Oposição
Líder: André Figueiredo
Minoria - Liderança da Minoria
Líder: José Guimarães
PL - Partido Liberal
Líder: Wellington Roberto
PP - Progressistas
Líder: Arthur Lira
PSD - Partido Social Democrático
Líder: Diego Andrade
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
Líder: Baleia Rossi
DEM - Democratas
Líder: Efraim Filho
SOLIDARIEDADE - Solidariedade
Líder: Zé Silva
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
Líder: Pedro Lucas Fernandes
PROS - Partido Republicano da Ordem Social
Líder: Acácio Favacho
AVANTE - Avante
Líder: Luis Tibé
Fique ligado nos nossos canais informativos. Nas próximas semanas, haverá mais notícias sobre os termos da provável inclusão de isenções de direitos autorais no âmbito da MP 948/20, e você saberá de tudo por aqui.