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Coronavírus: Ecad estima perdas imediatas de R$ 140 milhões para titulares
Publicado em 03/04/2020

Impacto se refere a valores de execução pública não arrecadados por cancelamentos e adiamentos de shows e festivais, fechamentos de cinemas e paralisação da cultura só em março, abril e maio; levantamento da SIM São Paulo estima em R$ 483 milhões as perdas para casas de shows, técnicos, agentes, empresários e outros participantes do mercado

Por Alexandre Matias, de São Paulo

No mar de números de contágios, mortes, taxas de expansão, há quem tente medir outras cifras: a do impacto econômico que a pandemia causará. Especificamente no mercado musical, tão dependente das apresentações ao vivo, é esperada uma grave crise nos próximos meses. O Ecad, por exemplo, já começou a calcular as perdas e chegou à conclusão de que, só em março, abril e maio, três meses dados como mortos para o segmento de shows, a perda dos titulares supera os R$ 140 milhões com a chuva de cancelamentos de shows e festivais, fechamentos de cinemas e a paralisação da cultura em geral. O número foi antecipado com exclusividade à UBC, durante uma live entre Isabel Amorim, superintendente executiva do Ecad, e Elisa Eisenlohr, gerente de Comunicação da UBC, no último dia 31.

No Reino Unido, duas entidades envolvidas no setor de shows ao vivo, a Music Managers Forum e a Featured Artists Coalition, já calcularam as perdas com os cancelamentos de shows em mais de 50 milhões de libras — só para intérpretes e empresários, sem falar nos outros profissionais envolvidos. Na Austrália, as perdas seriam de 200 milhões de dólares australianos para o setor musical ao vivo como um todo, segundo pesquisa da iniciativa I Lost My Gig Australia. Nos Estados Unidos, há estimativas de um prejuízo imediato de mais de US$ 200 milhões só pelos cancelamentos e adiamentos de grandes eventos como SXSW e Coachella. 

Analistas chegaram a prever, há coisa de três semanas, perdas globais de US$ 5 bilhões para a indústria da música. Mas essa conta, claramente, está ficando defasada. Segundo pesquisa da BBC de Londres, as rádios em vários países estão experimentando crescimentos médios ao redor de 15% na sua audiência. Também há indícios de que o streaming registra mais ouvintes. Mas não a ponto de compensar as perdas no setor ao vivo. A conta não fecha. 

Players do nosso mercado também foram à calculadora. A SIM São Paulo, maior feira de música do Brasil, por exemplo, divulgou nesta sexta-feira (3) uma pesquisa que calcula em R$ 483,2 milhões o impacto para o setor apenas entre os que responderam ao questionário: 1.399 players, quase metade deles baseados no Estado de São Paulo. Agentes, empresários, proprietários de casas de shows, equipes técnicas e de divulgação e outros profissionais estão envolvidos nesta conta. 

“Sobre a música, especificamente, muitas casas de shows vão fechar, e muito mais gente já perdeu o emprego, pois são funcionários terceirizados, colaboradores informais ou fornecedores de serviço, como assessor de imprensa, serviço de limpeza, técnico de som, barman. Lógico que a crise de saúde é urgente e emergencial, mas o mercado da música foi afetado imediatamente, por conta das aglomerações de pessoas, e os 57% de profissionais que trabalham sem vínculo só nas casas de shows de São Paulo, como medimos numa pesquisa anterior, já estão sem trabalho”, descreve Fabiana Batistela, diretora da SIM. 

LEIA MAIS: A pesquisa Data SIM completa

Para ela, a grande informalidade que se vê neste setor no Brasil deixa os trabalhadores particularmente expostos à intempérie: “Na Europa, os trabalhadores são oficiais, os impostos são pagos. Trabalhei com bandas francesas e suíças que pagavam 40% de imposto, mas preferiam pagar esse imposto porque podia contar com ele em momentos de crises. No nosso caso, é pânico geral.”

Um dado oficial do IBGE corrobora o que ela diz.  Todo o segmento de eventos no Brasil — que inclui não só feiras e festivais de música, obviamente, mas todo o conjunto dessas atividades — somou R$ 936 bilhões em 2018. O “desaparecimento” de três meses (numa estimativa otimista) faz prever um rombo da casa de muitas dezenas de bilhões para todas essas atividades.

A ajuda de R$ 600 mensais para artistas aprovada pelo Senado — e que sequer ainda foi ratificada pela Câmara antes da sanção presidencial — pode representar um pingo de esperança no mar de incertezas. Mas não vai, nem de longe, compensar a forte desaceleração do mercado. 

“Quando pensam nesse fechamento do cinema, do show etc, as pessoas deveriam pensar que há uma cadeia. Afeta o compositor, afeta o produtor, afeta o intérprete. E afeta um monte de técnicos e outros profissionais envolvidos nessas atividades”, enumera Isabel Amorim, do Ecad. “Agora, tem dado que a gente tem que ver com positividade. Desses eventos todos afetados, que não vão acontecer agora, 13% foram mesmo cancelados. Mas já há 41% com datas para a frente. E 46% adiados ainda sem data. Uma parte disso vai acontecer no segundo semestre, então dá para ter um pouco de otimismo. Acho que vamos recuperar uma parte.”

Uma pequena compensação à ausência de eventos têm sido, como já mostramos aqui no site, as lives monetizadas. Para o produtor Pena Schmidt, consultor da pesquisa do Data SIM, braço de estudos de mercado da SIM São Paulo, são uma mostra da criatividade dos artistas diante da crise. “Essas respostas vão aparecer muito rapidamente, plataformas de transmissão de eventos em streaming ou a Catarse, plataforma de crowdfunding, que é conhecida da classe artística e do público, podem ser adaptadas para trazer dinheiro em uma situação como essa. Pode ser muito interessante como desenvolvimento de linguagem. É aquela hora para o pessoal da técnica pintar e arrumar o equipamento, os agentes cuidarem da lojinha pra vender merchan, fazer mapeamento, os artistas vão fazer live... É hora de fazer curso, aprender coisas novas. Não é hora para lamentação, é hora pra se reinventar.”

“Está todo mundo correndo, agora, para desenvolver aquela ideia genial do digital que nunca conseguiu colocar em prática”, emenda Fabiana. “Nos próximos meses, vão surgir várias ideias novas, e deve sair muita coisa legal, porque é em momentos de crise que surgem as melhores ideias. Vamos acreditar que é um momento para a gente se reorganizar e ser criativo.” 


 

 



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