Formato vive era de ouro no mundo, e programas sobre música começam a despontar - e a ganhar relevância - no cenário nacional; veja contatos dos curadores para tentar mostrar seu trabalho
Por Alexandre Matias, de São Paulo
Os podcasts estão chegando! Depois de sua criação no início do século e de uma renascença na década passada, estes programas em áudio finalmente se estabeleceram no Brasil e falam de todos os assuntos - e os de música estão começando a mostrar suas garras. Não são programas que tocam músicas, mas sim que conversam sobre o assunto, com diferentes abordagens. Podem ser, portanto, bons canais de divulgação para o trabalho de artistas, veteranos ou iniciantes. (No final deste texto, veja contatos de alguns deles).
O formato foi criado em 2004 e difere do rádio online por permitir que o ouvinte o ouça quando bem entender. Seu nome vem da época do iPod, o tocador de MP3 da Apple, e, apesar de alguns podcasts terem público há mais de dez anos, a coisa só começou a decolar a partir da popularização do conceito de conteúdo sob demanda. O Spotify é uma das plataformas que têm apostado suas fichas no formato, ajudando a popularizar toda uma safra de programas, uma vez que há cada vez mais ouvintes ali desejosos de ouvir algo além de música.
“Os podcasts de música no Brasil ainda estão crescendo e se desenvolvendo”, explica Fábio Silveira, consultor de planejamento para música e editor-chefe do podcast semanal Fast Forward, o FF, sobre música e bastidores do mercado. “Não tem fórmula: todos aprendem fazendo, e cada episódio é um processo constante de se questionar, entender onde melhorar.”
Gravação do Fast Forward: ambiente relaxado, convidados e aprendizado na prática
“A área de música em podcasts está num caminho legal, e agora rola uma seleção natural: se estabelece quem tem mais fôlego”, completa o jornalista Lucio Ribeiro, capo do site Popload, que também se desdobra em festival, shows e rádio online, agora com podcast próprio, o Popcast. “Ainda há uma procura por formato e assuntos diferentes. É um veículo muito fácil de ser feito e consumido.”
“Percebemos que os podcasts em atuação eram muito voltados para gêneros e gostos bem específicos, como rock, metal e música pop”, continua Cleber Facchi, um dos apresentadores do podcast Vamos Falar Sobre Música?, sobre a origem do programa. O músico Thiago França, do grupo Metá Metá, que toca o podcast quinzenal Sabe Som?, concorda: “Os podcasts de música no Brasil estão muito focados na música como fio de condutor de uma outra coisa, e não como o fim em si mesma. A gente fala muito de música como mercado, política e espaço de inclusão, mas a crítica e a reflexão sobre a música perderam espaço. Eu, como músico e instrumentista, sinto falta disso. Já que estava sentindo falta, eu mesmo resolvi fazer o podcast.”
O principal formato é a conversa sobre música, e, fora o de Thiago, que sempre recebe convidados, todos contam com pelo menos dois apresentadores que garantem uma conversa ampla sobre os assuntos destacados. “O projeto veio da ideia de unir quatro pessoas com gostos completamente distintos, vindas de diferentes veículos e projetos culturais, para discutir os últimos lançamentos e temas mais quentes relacionados ao mundo da música”, explica Cleber, ele mesmo dono do site Miojo Indie, que apresenta o Vamos Falar Sobre Música? ao lado de Nik Silva, do blog Monkeybuzz, Helô Cleaver, da revista “Balaclava”, e Isadora Almeida, que apresenta o Popcast ao lado de Lucio Ribeiro. “Em quase dois anos de podcast, já falamos de saúde mental, dicas para artistas iniciantes, as transformações da produção brasileira na última década, temas de essência nostálgica e entrevistas com artistas vindos de diferentes campos da nossa música.”
A turma do Vamos Falar Sobre Música?: quatro cabeças pensando melhor que uma
“A gente une a visão de dentro tanto para falar do funcionamento dele quanto da própria música”, completa Fabio, que apresenta o FF ao lado de Guta Braga, que gerencia o grupo “Música, Copyright & Tecnologia” no Facebook, de Bruno Costa, da agência Milk Music, e do produtor U-Got. “O público normalmente tem o olhar do jornalista de música ou das publicações que falam desse mercado. A gente queria um outro olhar, que misturasse as duas coisas, justamente porque entendemos que elas não são dissociáveis. E, nesse sentido, é bem incrível que sejamos quatro: tem sempre um olhar que nos questiona a sair de um dogma que nem percebemos que inventamos.”
Fábio, que considera o mercado da música muito fechado, aproveita para abordar assuntos que considera “elefantes na sala”, como pink money (empresas que investem no mercado LGTB por terem entendido que ele gera dinheiro) ou saúde mental, para “explicar, por exemplo, que um problema que acomete a carreira de um artista não é um meme, mas tem origens psicológicas, artísticas e, principalmente, passa por lógicas do funcionamento do mercado que raramente são questionadas de forma aberta, sincera e em público, ainda mais por quem faz parte desse universo.”
Lucio, que, além do Popcast, ainda apresenta outro podcast que mistura futebol e música, o Sonzeira, entende que o formato é um braço de atuação de quem já tem um nome no mercado, uma forma de atingir ainda mais gente. “É um formato legal, com um custo técnico muito em conta e que acaba espelhando o que você faz em outras plataformas”, explica, frisando que o formato não é exclusivo para quem trabalha com comunicação. “Veja o Lucas da Fresno, por exemplo, que criou um podcast para lançar uma música”, explica.
Mas todos concordam que o formato ainda está pegando corpo, embora já haja uma oferta considerável e variada de podcasts no ar, como dizem ao citar seus favoritos: “O meu podcast favorito hoje é o Embrazado, do Igor Marques e do GG Albuquerque, que mapeiam a música periférica”, conta Thiago. Cleber cita os podcasts da família B9, e Fábio cita o podcast do blog Tenho Mais Discos Que Amigos: “Eles, inclusive, têm séries temáticas bem bacanas, como a Sampleado, que fala de usos de samples na história da música.”
Thiago França, do Metá Metá: "Já que estava sentindo falta, eu mesmo resolvi fazer um podcast (Sabe Som)"
Fábio conclui dizendo que o podcast é um bom canal para conhecer novos artistas. “Não com cada um criando o seu — não podemos esquecer que um podcast é uma mídia com a sua própria linguagem —, mas sim participando de podcasts de música e de outros temas também, como acontece no YouTube, por exemplo. No Fast Forward, além de estarmos atentos a tudo o que sai de lançamentos, já que temos uma sessão de recomendações nossas e dos convidados ao final dos programas chamada Aperta o Play, nós recebemos semanalmente convidados. E um dos pontos que sempre estamos tocando é quem de legal eles têm ouvido ou conhecido por aí. Muito em breve, inclusive, para ampliar esse alcance, passaremos a receber material das assessorias de imprensa de lançamentos. Principalmente para ampliar e diversificar o alcance do nosso radar.”
>> Contatos
Sabe Som? - https://open.spotify.com/show/0Q1hM7IaGhYsnyyhhlHSch
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Fast Forward - https://open.spotify.com/show/4SWJsRtKWW6GfHU0n94eD4
https://instagram.com/fastforwardpodcast (contato por mensagem direta através da rede social)
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Vamos Falar Sobre Música? - http://vamosfalarsobremusica.com.br/
sobremusicavamosfalar@gmail.com
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Popcast - https://open.spotify.com/show/50uZ0GpZwh19HHt6ASI31y?si=UE6V7sFrRTWx8NLvaV4vyQ
https://pt-br.facebook.com/poploadgig/ (contato por mensagem direta através da rede social)
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B9 Podcasts - https://www.b9.com.br/podcasts/
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Podscast TMDQA! - http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/category/podcasts/