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Heitor TP: “quanto mais especialista você se torna, mais perigoso é que se cristalize na fórmula.”
Publicado em 29/04/2019

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Criador de famosas trilhas sonoras para o cinema americano e ex-integrante da banda Simply Red, o brasileiro fala sobre o mercado da música original

Por Alessandro Soler, do Rio

Heitor TP é gaúcho de Rio Grande, fala inglês perfeitamente — a ponto de seu discurso em português refletir nítidas influências das décadas morando fora do país, nos Estados Unidos — e deixa escapar, aqui e ali, pitadas de sotaque carioca (fruto dos anos vividos em Niterói). Isso diz muito sobre ele. Multirreferências, multilinguagens, múltiplos jeitos de se expressar, musicalmente sobretudo, marcam esse consagrado violonista e guitarrista, por anos integrante da banda Simply Red e atuante como músico acompanhante de artistas do naipe de Ivan Lins e Lani Hall.

Premiado com o Grammy (de arranjo instrumental, com “What Are You Doing the Rest of Your Life?”) e o Emmy (pelo documentário “Ruídos no Oceano: Vida Marinha Ameaçada”), é engajado em causas ambientais e toma emprestados da natureza os sons e inspirações que usa na elaboração de famosas trilhas sonoras, para filmes como “Minions”, "Meu Malvado Favorito", "O Cavaleiro das Trevas", “Melhor, Impossível”, “Angry Birds”, “Madagascar” e “O Amor Não Tira Férias”, entre muitos outros.

Não que o mundo das trilhas tenha sido um objetivo seu desde sempre. Estimulado pelo alemão Hans Zimmer — ele mesmo autor das trilhas de filmes tão diversos como “Rain Man”, “Hannibal” e “Piratas do Caribe”, “O Último Samurai”, “A Origem” e “O Código Da Vinci” —, TP aportou sua experiência própria, seu jeito original de tocar, suas obsessões pessoais (sons de pássaros e insetos entre elas) e sua criatividade a uma atividade cujas oportunidades de atuação se multiplicam exponencialmente nos últimos anos.

“De fato, é um mercado cheio de possibilidades, nunca se produziu tanto conteúdo audiovisual. O perigo é ater-se só às fórmulas consagradas e deixar de experimentar, deixar de ousar. Eu costumo dizer isso aos estagiários que tenho no meu estúdio em Los Angeles: mostrem-me as coisas que vocês fizeram na adolescência, antes de começar a estudar música, antes de ter contato com os cânones e o mercado. Me interessa mais ver o novo, o original, que eles podem trazer. Porque, quanto mais especialista você se torna, mais perigoso é que se cristalize na fórmula”, ensina TP, que se apresenta esta semana no evento de audiovisual, música e inovação Rio2C, no Rio de Janeiro, tocando peças suas acompanhado da Orquestra Petrobras Sinfônica.

A habilidade de criar e, ao mesmo tempo, saber colocar-se “à sombra”, deixando a vaidade de lado em nome de uma obra coletiva —algo comum no audiovisual — exige equilíbrio. “Eu parto do diálogo sempre, do que a cena requer, do que a obra requer. Analiso o som do que se está dizendo, analiso as pausas... e, nelas, encaixo os sons, dando à trilha uma dimensão física, colorida, de preenchimento de lacunas. A música, numa obra dessa natureza, deve estar sempre a serviço do produto total, e não buscar o protagonismo.”

Por produto total ele se refere não só aos óbvios filmes, séries e telenovelas, mas também a videogames — uma das grandes áreas de expansão desse mercado — e até mesmo a experiências tecnológicas difíceis de nomear. “Já andei fazendo coisas para realidade aumentada, uns experimentos visuais para tratamento de doenças e coisas assim. A música acaba tendo um papel elementar aí. No caso dos videogames, esse suporte não é exclusivo. Eu já fiz uma trilha (para um jogo chamado “Best Friends”) que tem tudo para crescer, já se fala em série para a Netflix e filme inspirado neles. Ou seja, mais oportunidade de criação. O mercado vive um momento dinâmico e especial, com múltiplas oportunidades.”

Múltiplas como o próprio Heitor TP.

VEJA MAIS: Relembre a série "UBC Sem Dúvida: Música em Audiovisual", com importantes dicas sobre produção de trilhas para filmes, séries e outros produtos


 

 



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