Uso de animação, cores e formas atrativas estão presentes em projetos recentes, que apostam na integração entre acordes e imagens para atrair a atenção dos pequenos
De São Paulo
Educação musical, sim, mas sem ignorar que as crianças — cada vez mais — são seres visuais. Alguns dos projetos mais recentes que introduzem acordes, gêneros musicais e instrumentos aos pequenos são calcados em muita imagem, movimento e cor. É assim em iniciativas como “O Som Nasce para Todos”, do nosso associado Geisan Varne, que elaborou um filme protagonizado por artistas de diversos gêneros e planeja levá-lo, numa espécie de escola itinerante, a crianças pobres do Nordeste. É assim também com o recém-estreado “Dó Ré Mundo” (foto), um conjunto de histórias de animação que, ambientadas em um conservatório, apresentam essa arte para miúdos de 1 a 5 anos, tudo desenvolvido no Brasil e com versões em diferentes línguas.
“A imagem contribui, e muito, para a assimilação do conteúdo pela criança. Claro que a imagem precisa ter os elementos e cores certos para atrair a atenção do público, principalmente o infantil que, se gostar, assiste, e, se não gostar, troca (de vídeo ou produto) sem problema algum”, dizem Denis e Adolpho Knauth, da produtora Moove House e criadores do “Dó Ré Mundo”. “O mundo hoje em dia está mesmo cada vez mais visual. O universo musical atualmente é muito mais complexo de ser trabalhado sem estar atrelado a alguma imagem, desde um lyric vídeo até um videoclipe de alta complexidade. E, no universo infantil, isso sempre foi uma realidade.”
Por isso, os vídeos, de temas como amizade, família, sentimentos, descobrimentos, musicalidade e despertar dos sentidos, são recheados de cor e estrelados por personagens como Flautina (flauta), Mike (microfone), Gui (guitarra), Drum (bateria), Bob Tecla (teclado) e o diretor da escola Le Grand Musique, Baixião (contrabaixo). Versões em inglês e espanhol latino foram disponibilizadas na plataforma PlayKids, a fim de poderem alcançar crianças de vários países que não necessariamente dispõem de educação musical.
Foi essa mesma a motivação de Varne, como mostramos numa reportagem no site da UBC quando ele anunciou o projeto "O Som Nasce Para Todos", com o qual pretende rodar pelas zonas mais pobres do Brasil levando noções elementares da criação musical. Tudo amparado por imagens. “Vou ensinar a crianças paupérrimas. Quero tentar, com uma nova visão e abordagem, fazer uma escola itinerante de música extremamente brasileira para crianças que nem têm o que comer”, contou.
O apelo a imagens para seduzir crianças em projetos que trazem farta pesquisa musical, de fato, não é nada novo — embora viva, sim, uma renovação. Associar imagem e música deu tão certo que alguns dos desenhos animados mais bem-sucedidos do nosso mercado nos últimos anos investiram em trilhas sonoras originais sofisticadas, plurais e que contribuem para a educação musical. São os casos, por exemplo, de “Peixonauta” e “Mundo Bita”, cujas composições são assinadas, respectivamente, pelos nossos associados Paulo Tatit e Chaps Melo.
Mas não é um modelo único. Que o diga Sula Kossatz, vencedora do Prêmio da Música Brasileira ano passado por seu álbum “Deu Bicho na Casa”, composto de músicas complexas e inspiradas em criadores da talha de Mussorgsky e Vivaldi e até mesmo evocando outras artes (sem, no entanto, ter versão audiovisual), como o universo visual do pintor italiano Giuseppe Arcimboldo. “A música é o maior canal de comunicação”, resumiu a autora.
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