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Em Belém, a festa para Dona Onete ainda não acabou
Publicado em 24/06/2022

Artistas falam sobre a homenageada na última quarta pela UBC com o Troféu Tradições

De Belém 

Fotos de Wanda Marques

Dona Onete no palco do Theatro da Paz, em Belém

Continua a reverberar a festa que a UBC organizou na noite de quarta-feira (22), no histórico Theatro da Paz de Belém, em homenagem a Dona Onete, ganhadora do Troféu Tradições 2022 pelo conjunto de uma obra autoral de mais de 300 composições fortemente amparadas nas raízes da música paraense. Artistas do carimbó, do pop, da MPB e de outros gêneros exaltaram a Rainha do Carimbó Chamegado, um jeito mais lento e suave de tocar o tradicional gênero local, com letras sobre amor 100% criadas por ela. 

"É um prazer e uma alegria imensos ver o reconhecimento a esta mulher tão empoderada, tão forte. Uma mulher que vai vencendo e construindo uma carreira como autora, num universo ainda tão masculino, que se reinventou com mais de 70 anos, que não dá bola para fórmulas e modelos e canta sua verdade", disse Fafá de Belém, que também participou do show cantando ao lado da estrela da noite, cujo aniversário de 83 anos foi celebrado na semana passada.

Além de Fafá, outros artistas paraenses estiveram por lá para reverenciar Onete: Jaloo, Mestre Damasceno, Félix Robatto, Lucas Estrela, maestro Luiz Pardal, Aqno e Grupo Sancari

"Ela é uma inspiração", afirmou Jaloo, que se lembra de ter visto Onete pela primeira vez há coisa de 15 anos num Terruá, o tradicional festival de novos talentos dedicado a gêneros como carimbó, brega, guitarrada, siriá, lambada e vários outros. "Vi aquela energia toda no palco, naquela idade, com tanta verdade e originalidade... É magnética."

Os artistas e músicos que participaram da homenagem, na noite de quarta-feira

O maestro Luiz Pardal, também multi-instrumentista, arranjador e compositor, se lembrou da participação da cantora e compositora no mesmo festival mencionado por Jaloo: 

"Desde o Terruá, todo mundo ficou impressionado com aquela senhora. A identidade a define, está muito ligada à identidade paraense. É um símbolo, uma força da natureza. Ela é autêntica, simboliza a cultura do Pará e da Amazônia. É inteligente e sabe fazer isso de modo a alcançar as pessoas."

Pardal também passou pelo palco para tocar com Onete, que, às voltas com a artrose que a impede de estar em pé e dançar — como sempre fez nos seus shows —, vem se apresentando sentada. Mesmo sem muita mobilidade, ela ocupou todo o espaço do palco. A voz jovial, potente, as letras de venturas e desventuras amorosas e a evocação de tantas histórias, cores e texturas sonoras preencheram o Theatro da Paz, casa de ópera fundada no final do século XIX, durante o ciclo da borracha, e que pela primeira vez teve um show solo da cantora e compositora do carimbó. 

"É uma honra poder vê-la de perto realizar esses sonhos", sintetizou Lucas Estrela. "Dona Onete é um exemplo vivo de que é possível realizar qualquer coisa. Ela não se queixa, não se senta e desanima; faz acontecer. É maravilhoso a UBC proporcionar essa coroação à nossa rainha."

A energia sempre presente, as mensagens positivas que transmite através de letras aparentemente simples, mas cheias da vivência e sabedoria, são mencionadas por todos como os melhores atributos da artista. Como uma avozinha que atrai o carinho e a admiração dos mais jovens instantaneamente, ela tem entre seus mais fiéis fãs pessoas da Geração Z, que ajudaram a bombar seus vídeos e falas em vídeos virais em aplicativos como TikTok e YouTube. 

Paula Lima, Jaloo, Mestre Damasceno e membros do Grupo Sancari no palco

Foi assim, como lembrou Mestre Lucas, do grupo Sancari, desde a primeira vez em que ela soltou a voz numa canja despretensiosa com eles:

"Um dia, nós a ouvimos cantar, sozinha, em casa, ali na Pedreira (bairro de Belém), pertinho de onde ensaiamos. Fomos ver quem ela e nos surpreendemos com a idade. A voz era de jovem! E ainda é. Dona Onete impressiona por essa força, essa vitalidade. Para a sorte de todos nós, nossos caminhos se cruzaram naquele dia. Ela ainda tem muito o que mostrar da nossa cultura e da nossa música ao mundo todo. Que tenha uma vida bem longa."

Em julho, a próxima edição da Revista UBC trará uma crônica sobre a noite de entrega do Troféu Tradições, com mais depoimentos de artistas e uma entrevista com Dona Onete, em que ela explica o que há por trás de algumas das suas letras, comenta suas viagens por lugares tão díspares como França, Malásia e Nova Zelândia e revela momentos surreais que viveu no Circo Voador, no Rio de Janeiro, um dos palcos com os quais tem uma relação mais especial.

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