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Feliz Dia da Música Popular Brasileira
Publicado em 17/10/2021

No aniversário de nascimento de Chiquinha Gonzaga, reflexões sobre a MPB, gênero em eterna renovação

Por Fabiane Pereira, do Rio

Hoje, 17 de outubro, é celebrado o Dia da Música Popular Brasileira – data estabelecida em homenagem ao nascimento da maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935), pianista, maxixeira e compositora carioca, uma das precursoras da nossa música — e, nesse dia, sempre ouço uma das minhas canções preferidas da vida toda, “Essa Moça Tá Diferente”, de Chico Buarque.

Chico é um dos meus artistas favoritos pelo conjunto da sua enorme obra. Ganhador do prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura de língua portuguesa, e do Jabuti, o mais importante do Brasil, Chico Buarque também publicou seis romances, além de peças, uma novela, um livro infantil, um livro de poesia. Mas é pela sua música que ele se tornou um dos nomes mais conhecidos da arte brasileira mundo afora. A canção de que eu tanto gosto é uma espécie de símbolo mentalinguístico dessa obra tão incrível. “Essa Moça Tá Diferente” não fala de uma mulher. Fala da própria música brasileira e de uma nação em constante e acelerada transformação cultural.

A tal moça seria a MPB porque, na época que a canção foi composta, ela flertava mais com o tropicalismo do que com o samba — um dos gêneros preferidos de Chico. O desdém presente na letra se refere, segundo críticos, às tradições da sigla.

Falar em música brasileira é contar uma pluralidade de identidades, sons, ritmos, melodias e histórias diferentes que representam o Brasil do jeito que ele é. Por isso, entra ano, sai ano, sigo promovendo a renovação da música brasileira especialmente através de músicos da chamada “nova MPB” que bebem desta fonte tão farta. Artistas transgeracionais, aqueles que transitam entre o legado e a renovação, o artesanal e o eletrônico, a contemporaneidade e a ancestralidade são os que mais me interessam, e a nova safra está repleta de casos excepcionais.

Letrux convidou Marina Lima para um dueto em “Puro Disfarce”, AnaVitória contou com as participações de Lenine e Rita Lee em seu disco mais recente; Emicida reverencia Gilberto Gil nas canções “Quem Tem Um Amigo Tem Tudo” e “É Tudo Pra Ontem”. Na primeira, o rapper e pensador paulistano faz duo com Zeca Pagodinho. Anos antes, Emicida ganhou visibilidade nacional cantando com Vanessa da Mata. Se a gente for usar a palavra do momento para essas fusões e participações especiais, veremos que não faltam feats (e festa) na música popular brasileira.

O que também não falta são canções que refletem o tempo em que vivemos. Caetano Veloso acaba de lançar um single promovendo reflexão sobre tecnologia, relações baseadas na internet e o domínio crescente dos conglomerados digitais, mais poderosos que a grande maioria dos Estados nacionais. “Agora a minha história é um denso algoritmo /  Que vende venda a vendedores reais / Neurônios meus ganharam novo outro ritmo” são alguns dos versos de “Anjos Tronchos”. Um assunto que também já foi tratado por Gil em “Pela Internet” ou pela Banda Uó na canção “Dá1Like”.

Foi Nina Simone quem verbalizou, lá nos anos 1970, que o artista deveria refletir sobre as questões do tempo em que vive. E, indo na contramão do negacionismo que tem ganhado força em todo mundo, especialmente no Brasil, Marisa Monte, uma das maiores representantes da MPB, promoveu o positivismo em novo álbum.

Nele, também ela destaca a renovação e a diversidade da música brasileira ao incorporar parceiros novos como Chico Brown, neto de Chico Buarque, filho de Carlinhos Brown e certamente uma das heranças genéticas mais musicais do Brasil. Das dezesseis músicas do disco, cinco foram feitas em parceria com ele, que se prepara para lançar seu primeiro trabalho solo. Sobre esta renovação tão falada, Chico Brown acredita que a MPB é mais um movimento do que um gênero musical:

“O que a gente tem visto é que as coisas estão ficando mais eletrônicas, mais pautadas nos elementos sociais de uma forma positiva. Eu não me preocupo em me pautar no que as outras pessoas têm feito recentemente porque minhas influências vêm lá de trás”, ele me disse num bate-papo esta semana. E continuou:

“Posso até dizer que estou mais sintonizado artisticamente, musicalmente, na ‘velha MPB’ do que qualquer outra coisa, mas acompanho os amigos entusiasmados, se adaptando, fazendo lindas canções, jogarem o jogo do mercado de uma maneira genuína, resgatando a música baiana e mineira dos anos 70 de uma maneira honesta. E, pra mim, isso é mais importante do que qualquer outra coisa. Procuro não me agoniar para acompanhar o ritmo que vai ditar minha criação, mas fico animado de ver como são genuínos, ricos, expansivos os caminhos que a música brasileira pode tomar.”

Temos muitos — muitíssimos — problemas a serem resolvidos no Brasil, mas se há uma única certeza é a de que nossa música está muito bem cuidada. E àqueles que insistem em dizer que não se faz mais música como antigamente, respondo pegando emprestados os versos de Belchior imortalizados por Elis. “É você que ama o passado / E que não vê / Que o novo sempre vem.”

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